sábado, 28 de fevereiro de 2015

Por enquanto é tempo

O que é da água extraio, guardo
Ainda que o venha a entregar.
Walt Whitman, in Cálamo
Nota de abertura: a ribeira que atravessa a horta pedagógica em Creixomil não é só a ribeira de Couros, como temos a mania de a descrever; ela faz-se também, por exemplo, da ribeira de Santa Luzia. E, mas a jusante – em frente à nova horta –, da ribeira de Urgeses. Quem passa pelo interior daquele espaço de excelência na área do ambiente vimaranense sabe muito bem que há vários canais que o atravessam.

1. Feita está introdução importa dizer que na última quinta-feira, pelo menos entre as 19H30 e as 19H37 (enquanto eu, de fato de treino em punho, matava a agitação do dia e corria por entre os pequenos talhões lindos de que se faz a horta) senti um fedor tremendo a petróleo. Há quem lhe chame solventes ou pasta industrial; para o meu nariz já aliviado dos cheiros do dia, aquilo não oferecia dúvidas: era uma descarga industrial com fortíssima carga poluente. Não tenho receio em afirmar que o que corria – saindo do canal mesmo junto à casa de madeira que serve de apoio aos colaboradores municipais que ali trabalham – em direcção ao Selho era uma descarga de empresa têxtil que tem uma estamparia no seu processo produtivo.

2. O cheiro na Horta Pedagógica era catastrófico. Aquilo que percorria o canal que desemboca no Couros era assustador; quase fantasmagórico (pela cor). Como a foto documenta (peço desculpa pela qualidade da fotografia que ilustra o que venho descrevendo, mas não costumo fazer as minhas corridas de máquina fotográfica na mão). Mesmo assim a foto fala por si.

3. Tenho muita pena de Amadeu Portilha e daquela que é uma das suas grandes apostas pessoais e politicas para Guimarães. Por mais que o vereador com responsabilidades na área do Ambiente na câmara de Guimarães se empenhe para que Guimarães seja uma cidade verde, há alguém que faz tudo para matar o seu trabalho e empenho. Por mais que o vereador Portilha lute para que a cidade-berço receba o título de capital verde, sempre há um arista destruidor do ambiente que gosta de pintar as ribeiras de cores e odores que não servem o futuro. Por mais que Guimarães se queira afirmar sempre há engenhosos destruidores da afirmação de um território de futuro.

Nota final: a ribeira que atravessa a horta pedagógica – fui espreitar para ter certezas, sob a variante, já na ligação a Santo Tirso, isto é, o troço principal da ribeira –, não tinha qualquer descarga industrial, apenas o habitual saneamento doméstico que por ali vai correndo. Talvez não seja muito difícil perceber a origem deste atentado ambiental.

Comboio de governo: peixe fora de água

foto: publico.pt
Não tenho pena, confesso do clamor que se levantou contra António Costa e as suas declarações aos chineses. Quem por sound bites (literalmente ‘dentada’ do som) vive, por sound bites morre. Do que tenho pena é de que a politica não passe disso. (…)
E Costa, que se aproveitou do resvalar sistemático para o discurso básico a fim de apear Seguro da liderança do PS, tem a paga que merece. Quem escorrega também cai.
Henrique Monteiro, Expresso, 15.02.28

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Terra marginal

Os carrascos de ontem bebem a taça de ouro
até ao fim
Ingeborg Bachmann, in O Tempo Aprazado
Ponto prévio: em declarações à Rádio Renascença o atual cardeal de Lisboa Manuel Clemente disse que “Jesus Cristo deu uma ordem aos cristãos para se meterem na política que não deve ser ignorada”.
Deu? Jesus ou Cristo?
Cristo, nascendo tão depois de Jesus, encontrou em acção outros interesses.
Mas Manuel Clemente tem razão: Jesus era um homem sério, ponderado, lutador; muito além do seu tempo. Sabia estar com os que sofriam, nunca lhes virava as costas e não tinha medo às palavras quando se tratava de obrigar a fazer descer das árvores os pequenos devedores. Ah! E dava pistas e indicava caminhos para destruir reinos perigosos e vazios; enquanto anunciava um outro reino.

Este ponto prévio, parecendo descabido (sei muito bem que o será para muitos que se consideram ultrajados por se mexer no comodismo da sacristia) serve de introdução às notícias – as boas noticias – que nos trazem noticias tremendas (pela sua dimensão e consequências); noticias que nos mostram como homens bons sempre são reconhecidos pelas pessoas de bem.
Uma delas lia-a há pouco no Igreja Viva (suplemento do Diário do Minho): Papa Francisco reconhece martírio do arcebispo de El Salvador, Oscar Romero. Um santo a considerar. Martirizado pela violência de um tempo violento (terá nascido no tempo em que vestiram Jesus de Cristo?)

Ah! Por falar em homens bons, nunca é demais lembrar estas palavras: “não há absolutamente lugar no ministério para aqueles que abusam de menores”. (carta do papa Francisco aos presidentes dos episcopados e aos superiores das congregações religiosas)

No centro do silêncio

Como Orfeu, toco a morte
nas cordas da vida.
Ingeborg Bachmann, in O Tempo Aprazado
foto: fabricaasa.eu
Ouvi dizer – tenho cada vez mais medo do que vou ouvindo por aí! – que há toneladas (terei ouvido bem?) de telas que sobraram, e estão por aí, daquilo que foi a CEC 2012? 
Toneladas?
Qual será a taxa que o ministro Moreira da Silva aplicará a tanto peso?
Não é plástico?
Não?

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Crime sem castigo


Com a corda do silêncio tensa sobre a onda do sangue, dedilhei o teu coração vibrante.
Ingeborg Bachmann, in O Tempo Aprazado

Ao ler o RV jornal publicado no vizinho concelho de Vizela, a peça assinada por Ângela Fernandes (Vizelenses consideram excessiva taxa sobre os sacos plásticos) – e sem discutir na sua forma e conteúdo – fico com saudades do tempo em que havia em, Guimarães, Jornalismo.
Na verdade, o que o jornal publicado na cidade de Vizela diz é que nem tudo o que parece é; pois estamos a ser enganados por supostas medidas protectoras do ambiente. 
Seria tão importante que essa realidade fosse escalpelizada por cá, em terras vimaranenses! Como outras realidades que mexem com as nossas vidas, não é?
Exagero meu! Alguém viu alguma reportagem onde fosse mostrado o extraordinário ganho que as grandes superfícies passaram a ter e terão em consequência de uma fiscalidade verde que de verde só tem o nome? O jornalismo local faz-se muito disto, não de sorrisos para a máquina fotográfica.

Regresso a nenhures

imagem: decolherpracolher.com.br
Quando o presidente da República, interpelado pelos jornalistas, fala para os microfones e para as câmaras de televisão, é difícil tomar atenção às suas palavras – seja para louvá-los, seja para criticá-las.
António Guerreiro, Ípsilon, 15.02.21

O jornalista João Adelino Faria, escreve no Dinheiro Vivo (15.02.21) uma coisa que nos devia, não só obrigar a pensar como, e fundamentalmente, tirar do sério. O texto vale pelo seu todo. Mas destaco esta afirmação:
“O Carnaval já passou, mas parece que em Portugal vamos continuar todos mascarados. Uns copiam ao pormenor os novos super-heróis da Europa e tudo fazem para se parecerem com os gregos. Outros, pelo contrário, preferem a linha dura e imitam com rigor os alemães. Portugal está definitiva e perigosamente partido em dois”.
O pior é que da parte dos partidos portugueses toda a gente faz de conta que ainda não estamos na quaresma.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Conhecedor de intrigas

Como tudo é vão! Arrasa uma cidade,
ergue-te do pó dessa cidade
assume um cargo e finge para evitares expor-te.
Ingeborg Bachmann, in O Tempo Aprazado
Li, já foi há uns dias (já é do passado dia 10) uma notícia no jornal Público que me fez pensar que, às vezes (muitas vezes, afinal) nem tudo o que parece é. Li que a câmara de Braga “paga seis mil euros em consultas de dentistas por ano a famílias carenciadas”.
Ui!
Ao ler isto pensei: caramba! Guimarães tem que fazer algo parecido, não é? Isto parece extraordinário.
Não?
Não, não e não.
Trata-se de uma iniciativa que envolve uma clinica privada onde – leia-se com toda a atenção – “o acesso ao serviço não será generalizado a toda a população”.
Repita-se para que não reste nenhuma dúvida: nem todos os bracarenses com dificuldades poderão usufruir de consultas para tratar dos seus dentes.

Há pormenores que, não se estando atento, fazem a diferença. E a forma como se vende coisas ao desbarato para iludir está na moda. Cuidado!

Debate à porta fechada

Onde o céu da Alemanha enegrece a terra
o seu decapitado anjo procura um túmulo para o ódio.
Ingeborg Bachmann, in O Tempo Aprazado

1. Comecemos pelo jornal Público. E pelo seu olhar em editorial da última sexta-feira: «as palavras de [Jena-Claude] Junker parecem encaixar que nem uma luva na mensagem do Syriza: “não negociaremos o orgulho e a dignidade do nosso povo”, disse Alexis Tsipras na semana passada no parlamento».

2. Olhemos agora para o que Henrique Monteiro (Expresso, 15.02.21) escreve sobre a forma como a Europa faz de conta que é uma realidade democrática: “na Europa, seja Schäubler seja Varoufakis, seja Maria Luís ou Moscovici nenhum tem uma alternativa boa. Discutindo o mal menor, já perdemos liberdade”.

3. Pensemos então, agora e com muita calma e ponderação, por favor!, no que Pedro Santos Guerreiro (Expresso, 15.02.21) sublinha: “a declaração política de Junker sobre a dignidade dos gregos, portugueses e irlandeses é uma bomba contra Passos Coelho e Maria Luís, que embaraçosamente (mas não embaraçadamente) foi esta semana sentada ao lado de Wolfang Schäubler para se mostrar como um produto português made in Germany.

4. Perguntemo-nos, então e agora, por favor com toda a ponderação, serenidade e com a razão sobrepondo-se à emoção: que merda de povo somos nós, portugueses?

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Olhar (local) do silêncio

foto: trendy.pt
Temos muita dificuldade de estruturar e incluir, na pirâmide do mercado de trabalho, o grande investimento que representa o ensino artístico. Deixe-me dar o exemplo de Guimarães e da Orquestra Estúdio. (…) Não é aceitável que este modelo, tendo-se revelado um sucesso não fosse mantido. (…) não podemos ficar contentes e, ter apenas a Casa da Música, o São Carlos e a Gulbenkian.
Rui Massena, E, 15.02.21

Devotar indígenas

Na placenta do medo
a escória procura alimento novo
Ingeborg Bachmann, in O Tempo Aprazado
foto: rr.sapo.pt
Líderes europeus fazem “mea culpa” (Título do Jornal de Noticias do último sábado), sobre a realidade que já sabíamos, mas que só agora foi valorizada porque Barroso já não é, onde se pode ler que “ninguém assume paternidade da austeridade e todos criticam Barroso.

É uma peça de Helena Teixeira da Silva sobre a realidade, cada vez mais violenta, sem sentido e desnorteada dos senhores que dizem querer salvar a Europa. Infelizmente um deles fala a mesma língua de Camões!
Naquele texto fica-se também a saber das asneiras que matam o desejo de um futuro melhor para os portugueses. Desde a carta de Vítor Gaspar – o tal “arquiteto do ajustamento” – até às palavras de Christine Lagarde que falou, há tempos, em mais tempo para Portugal pagar a sua dívida.
E agora Portugal é exemplo, tentam impingir-nos. Exemplo para quem?
Ah! É só o Portugal do PSD e do PP.

Olhar do silêncio III

O «choque das civilizações» ainda é apenas uma possibilidade entre outras. a batalha que parece estar a começar na Europa, na Grécia e a seguir em Espanha, pode permitir esconjurá-la.
Serge Halini, le Monde diplomatique, fevereiro 2015

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Verdadeiro por si mesmo

As ideias aparecem quando são necessárias.
Do caderno de José Saramago

Domingos Bragança é comendador.
É uma distinção da Academia Brasileira de Engenharia de Segurança do Trabalho.
E porquê?
Ora, ora, porque a assembleia nacional de engenheiros de segurança no trabalho do Brasil resolveu distinguir o exemplo da relação institucional entre a autarquia vimaranense e a universidade do Minho.
Excelente!
Como vimaranense só tenho uma pergunta: depois desta distinção ainda haverá algum militante do PSD de Guimarães que considere exagerada a relação da autarquia vimaranense com a sua universidade?

Se calhar até há! Mas, diria o meu avô: é nestas alturas que os ciúmes crescem; por todo o lado.

Olhar do silêncio II

gravura: entropia.blog.br
Depois de décadas a elogiar as virtudes do gratuito, do imediato, do descritivo e do emotivo, o jornalismo mainstream vê-se confrontado com o cansaço e a desfidelização de parte da sua audiência.
Sandra Monteiro, le Monde diplomatique, fevereiro 2015, E, 15.02.21

Olhar do silêncio

A esquerda derrete-se por um pensamento mágico, a direita para se exaltar precisa de uma orgulhosa e solitária epopeia.
Manuel S. Fonseca, E, 15.02.21

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Amanhã direi

Recolhe os cães. Lança os peixes ao mar. Extingue os tremoceiros.
Vêm aí dias difíceis.
Ingeborg Bachmann, in O Tempo Aprazado
1. Na habitual rubrica Altos & Baixos do semanário Expresso é a segunda vez num espaço curtíssimo de tempo que António Costa desce. Na edição de ontem Bernardo Ferrão justifica esta baixa de Costa por este insistir nos ataques a Poaires Maduro e escreve: “é mais um sinal da falta de estratégia do líder socialista, que enquanto discutia com o ministro nada dizia sobre Scäuble. No PS já se fala em desilusão”.
Não tenho nada a dizer sobre esta afirmação do jornalista do semanário dirigido pelo irmão de António Costa. Ou melhor, tenho: o senhor António Costa é o líder que a maioria dos simpatizantes quis para o PS.

2. Leio um texto de opinião de Sílvia de Oliveira no Dinheiro Vivo, também de ontem – Tsipras conseguiu, a partir de Atenas, aquilo que o PS ainda não tinha sido capaz talvez nunca fosse: diminuir a autoridade de Passos Coelho – e não gostei. Nada. Rigorosamente nada
                (um parêntesis para dizer que comungo da opinião de Sílvia de Oliveira; o que não gosto é da realidade descrita).

3. Sem pretender brincar com a realidade atual do PS registo (apenas) o que oInimigo Público (15.02.20) escreve:
                Costa Defende perdão da Grécia igual ao perdão do Benfica que fez.

Nota final: Há muitos, mas muitos anos que sou apreciador da poesia da austríaca Ingeborg Bachmann

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Nova normalidade

O emprego, a transformar-se num bem escasso, deve ser partilhado por todos. Este é um dos desafios prioritários da nossa civilização.
António José Seguro, in Compromissos para o Futuro
foto: adrave.pt
A economia da região do Ave – que “tem em Guimarães e Famalicão os principais motores” – deu para o Produto Interno Bruto (PIB) mais 27,79% do que em 2000.
Gosto de noticias assim.
Gosto mesmo!

Marca solene para o resto da vida

Na política, como na vida, existe aquilo que se chama fazer e fazer que se faz.
Manuel Ribeiro, Reflexo, fevereiro 2015
Mais de 3 mil idosos de Braga perderam o apoio social”, escreve em título o jornal bracarense Diário do Minho (15.02.07).
Ena!, tanta gente sem recursos! Cresce, portanto, o número de pobres no distrito de Braga.
A verdade é que Rui Barreira continuará! Impávido e sereno. Bem feito! Talvez assim alguém acorde para a estupidez que fez.

E pronto! Se é este o país que queremos. Por mim, só me resta um grande “Bom dia” para os irmãos Coen. Grande filme “este país não é para velhos”.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Argumentos para vencer

Ser político deve ser uma honra. Deve ter por intuito servir a comunidade o melhor que se sabe.
Henrique Monteiro, E, 15.02.07
O Plano de desenvolvimento social 2015/2020, da responsabilidade de Paula Oliveira, “é um documento e um instrumento orientador”, bem como “a referência e compromisso, onde estão as políticas sociais, as estratégias, as soluções a adotar do ponto de vista social” nos próximos anos em Guimarães.
E o grande objetivo deste documento de trabalho e de referência é acabar com a triste realidade que atravessa a sociedade portuguesa: a pobreza (e outras carências sociais).

Não vai ser possível, infelizmente, em cinco anos, coroar de êxito este iniciativa de Paula Oliveira, mas o facto de ser possível construir respostas – sejam de “sensibilização ou de formação” – é um excelente caminho para confrontar as realidades criadas pela atitude de Mota Soares no governo de Pedro e Paulo.
Acredito que, no que concerne à câmara de Guimarães, tudo será feito pela vereação da ação social.
Não me perguntem o que penso sobre o que possa ser a resposta da Segurança Social.

Jogos de sonhos enigmáticos

Mesmo quando se esquece a voragem das notícias, há um momento em que os problemas voltam. Não porque saiam da mancomunação de jornalistas malvados, mas porque existem de facto, porque a corda foi esticada para lá dos limites.
Domingos de Andrade, Jornal de Noticias, 15.02.14
Dos 13,7 milhões de euros que a Estradas de Portugal tem previsto investir no distrito de Braga, parece que há um milhãozito e tal que virá para Guimarães, mas (atenção) integrado “na requalificação entre a circular sul de Braga e Taipas”.
Ai Guimarães! Está na hora de acordar!
Só 1,3 milhões em 13, 7 milhões?

Há por aí quem dê uma ajuda a fazer as contas da importância de Guimarães?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A espera aumenta

O que os meus olhos veem é um enigma.
O que os meus olhos olham passa a passo.
Ruy Cinatti, in Os castelos interiores
Em entrevista à edição de fevereiro do Reflexo, Domingos Bragança fala de si, do seu partido, de Guimarães e do seu projeto para o seu concelho.
Esta entrevista do presidente de câmara de Guimarães é uma entrevista atípica, porque natural; é uma conversa, como o diretor do jornal assume em editorial, onde Bragança diz o que lhe vai na alma. E onde, embora a espaços, se mostra desprendido. Mas sempre pronto a vincar que não está distraído – “a vida político-partidária faz-se de jogos, de manhas, de táticas e eu gostava que a vida democrática, entre os partidos políticos, fosse mais do contraditório, da explicação, da proposta alternativa e de todo esse debate”.
Tudo clarinho? Aparentemente sim, mas façamos uma segunda leitura: “a vida político-partidária faz-se de jogos, de manhas, de táticas. Ui! Gosto muito da ideia do contraditório. É linda; quase lírica, mas faz todo o sentido.
Sobre o dia-a-dia em Santa Clara, Bragança não hesita em comparações com o passado recente. Aí, sem sombra de dúvidas, está em campo o atual presidente de câmara de Guimarães; que, de forma claríssima, diz que é ele – e só ele – o edil vimaranense. Mesmo que, suavizando, vá dizendo “são [António Magalhães e Domingos Bragança] duas pessoas com personalidades diferentes e é bom que seja assim”.

Esclarecido o posicionamento de Bragança em Santa Clara, o autarca vimaranense mostra como gosta da prática política: “creio que as pessoas já perceberam a minha maneira natural de ser e de dizer as coisas”. E clarifica como se posiciona na coisa pública: “a democracia é muito exigente. Exige a aceitação do argumento, da divergência e daquilo a que chamo o contraditório. Não há democracia, nem desenvolvimento das sociedades sem contraditório”.
Haverá, agora, dúvidas da postura política de Domingos Bragança?
Fica assim totalmente claro quem ‘comanda’ o dia-a-dia em Santa Clara: “é inegável que eu abri as reuniões de câmara, que são participadas, analisadas, analisando, discutindo, dando explicações sobre o que estamos a fazer e, obviamente, ouço muito mais”. Tudo muito certinho, portanto. Ou ainda haverá quem goste de misturar o velho com o novo?

Claro que a entrevista sendo, para um jornal com sede em Caldelas, aborda questões de interesse para aquela comunidade vimaranense. Importa, por isso, destacar este desafio do presidente de câmara de Guimarães: “neste momento está a ser escolhida uma equipa externa de projetos para acompanhar o projeto [requalificação do centro das Taipas], da mesma forma que foi feito com a intervenção no Toural e na Alameda de S. Dâmaso”. É uma grande notícia para Caldas das Taipas!


Não duvido, nem um pouco, que os taipenses ficam a aguardar ansiosamente que estas obras surjam no terreno. Até porque para o presidente de câmara, com o rio limpo “e com o parque natural e as termas que são um valor indissociável das Caldas das Taipas” – a vila termal “terá todas as condições para recuperar a vocação turística”. E se lhe juntarmos a recuperação urbana…

Olhar do silêncio II

Não é a restruturação da dívida, mas a sua ausência, que é ‘imoral’. Não existe nada particularmente especial sobre os dilemas da Grécia.
Joseph E. Stiglitz, Expresso (Economia), 15.02.14

Moços de fretes da nossa história sofrida

Não gosto de tipos que se levam muito a sério, tipos de ar compungido a quem, certamente, mas também não quero ir ver, não cabe um feijão no apertado lugar onde o sol não brilha.
Manuel S. Fonseca, E, 15.02.07
Escreve Sílvia de Oliveira na edição de Dinheiro Vivo (15.02.14) que “agora sim, juntaram-se todos à esquina, Presidente da República incluído, na gasta concertina – mais uma vez, não vá não ter ouvido – de que Portugal não é a Grécia, de que nós, portugueses, somos muito diferentes dos gregos”.
Excelente afirmação! Cheia de razão e perfeitamente enquadrada nos olhares que têm que ser lançados sobre um país que tudo faz para se vergar a outro país, a Alemanha.
Claro que é, no mínimo, pouco recomendável esta atitude do presidente da República. Talvez por isso, Bernardo Ferrão (Expresso, 15.02.14) tenha colocado Cavaco Silva nos Baixos, escrevendo que ele “mostra uma colagem não só à linha o governo como à cartilha de Berlim”. Para, de seguida, perguntar: “será que é assim que se defende o projeto europeu?” e terminar com uma realidade que só quem não quer não vê: “não admira que a sua popularidade esteja uma vez mais em queda”.
É claro que Pedro Bacelar de Vasconcelos (Jornal de Noticias, 15.02.13) tem toda a razão: “o Governo, a maioria parlamentar que o sustenta e o Presidente da República portuguesa incomodados pela flagrante demonstração do fracasso das políticas que infligiram ao país durante os últimos anos, perderam a compostura e desataram a insultar o governo legítimo de outro estado-membro da União Europeia – a Grécia”.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Olhar (local) do silêncio

Domingos Bragança não joga à defesa, expõe-se e, como o próprio afirma, algumas declarações que vai produzindo são utilizadas pela oposição de uma forma descontextualizadas e simplesmente para alimentar polémicas desnecessárias.
Alfredo Oliveira, editorial Reflexo, fevereiro 2015

Uma nota de rodapé (fundamental) para enaltecer a bela iniciativa do jornal taipense no lançamento da sua edição digital.

Rochas fundas e a procura da luz

A politica tal como a conhecemos entrou em declínio e tem os dias contados.
António José Seguro, in Compromissos para o Futuro

foto: antoniocabral.com.pt
Ontem no parlamento, uma pergunta ficou sem resposta: face aos mais recentes dados sobre pobreza em Portugal, o Governo mantém o plano de cortar 100 milhões de euros nas prestações sociais não contributivas?, afirma a jornalista Andreia Sanches na peça «Em debate sobre pobreza, ministro diz que “Estado social está mais forte”», do jornal Público da última sexta-feira.
Isso diz o ministro que adora a mota.
E a sua resposta é fundamental para (todos, mas mesmo todos) percebermos as dores que nos esperam; na velhice que se trata cada vez mais, mais desencantadora.

Os portugueses que cada vez se movimentam menos, estarão, nesta altura com uma dúvida do tamanho do mundo nas suas cabeças dirão: porra! O que é que está mais forte?

Olhar do silêncio

Há um momento em que a frágil estabilidade de uma sociedade rompe e os setores vitais para o seu funcionamento começam a cair, como peças de dominó. A nossa, sustentada em carregar com dinheiro os problemas, começou visivelmente a ceder em setembro, com a trapalhada na abertura do ano letivo.
Domingos de Andrade, Editorial, Jornal de Noticias, 15.02.14

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Padrão invariável

Como o homem normal diz disparates por vitalidade, e por sangue dá palmadas (…) sangue, e, quase sempre, paisagem invisível de rua conhecida.
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego

A última edição do jornal Reflexo (fevereiro de 2015) é para guardar. Pelos taipenses felizes pela aposta na qualidade do trabalho que se começa a desenvolver na sua terra e pelos vimaranenses que ficarão com argumentos para se convencer que o futuro de Guimarães não está escrito só em Santa Clara (cada vez mais) ou no Toural (cada vez menos).
Os principais interventores políticos vimaranenses foram até à vila e disseram o que lhes vai na alma; o que querem para Guimarães e como encaram o futuro coletivo em terras de D. Afonso. Desse belo trabalho jornalístico destaco:

foto: planoclaro.com
1. Começando pelo vereador da coligação de direita em Guimarães, André Lima, até me apetecia dizer que as suas palavras cumprem o papel da oposição, mas, pensando melhor, não. O líder laranja vai fazendo de conta que tem ideias, mas tem sempre alfinetadas incompressíveis – “a nossa postura tem sido responsável, sem nunca abdicar da função fiscalizadora que compete à oposição”.
Claro que o papel da oposição é fiscalizar, alertar e mostrar que há alternativas! Será por isso, que André Lima afirma que “[o PS] não tem tido para com as nossas iniciativas políticas a maturidade política que nós temos demonstrado com algumas iniciativas do PS”? Não creio. Mas o tempo é bom conselheiro e faz sempre justiça. Para já é o discurso oficial do PSD é o discurso de sempre. Coisas que já ouvimos e lemos, vezes em conta. Só assim se compreende esta afirmação: “na câmara de Guimarães e no PS há um princípio de desconfiança nas juntas de freguesia. Estamos perante uma câmara marcadamente centralista”.
Há uma ideia boa a perpassar a vontade política de André Lima: “Guimarães deve ambicionar ser um concelho verde, independentemente do título”.
foto: cm-guimares.pt

2. O outro parceiro da coligação de direita, Monteiro de Castro, não diz muito, é verdade!, mas deixa uma verdade que importa reter: “[a situação vivida com o orçamento participativo 2014] é seguramente um dos momentos mais negativos destes primeiros meses do mandato”.

foto: facebook.com

3. Por fim, Torcato Ribeiro, o vereador da CDU, como sempre, foca-se no essencial. Primeiro, no que está na moda: “a despoluição das nossas linhas de água é fundamental para a nossa qualidade de vida independentemente do título de capital verde europeia”. Depois naquilo que tem que mobilizar os vimaranenses: o Avepark: trata-se “de um projeto que é essencial para o nosso concelho e, infelizmente, não está a ter a devida discussão pública”.
O resto, porque não é de somenos importância, obriga a reter duas ideias: “num executivo democrático todas as vozes contam e a minha tem contado. Gostaria é que contasse efetivamente mais” e “tendo maioria absoluta, o executivo dá prioridade na realização e aprovação das suas propostas que constam do seu programa eleitoral”.

Em estado de alerta

Houve uma “regressão brutal” da liberdade de imprensa em 2014.
Título do Público, 15.02.13


Numa peça de Ana Gomes Ferreira ficamos a saber que “em todo o mundo, trava-se uma guerra à informação”. Por muitas razões, mas o «objetivo é comum: “reduzir ao silêncio pelo medo e pelas represálias”».
Este trabalho da jornalista do diário Público vem na sequência do relatório dos Repórteres sem Fronteiras sobre a liberdade de imprensa no mundo, que escreve: “a tendência dos últimos tempos não só se confirmou, como piorou e, no ano que passou” assistiu-se à tal “regressão brutal”.

Que se pode dizer quando, quase sem sair da porta, se vê o que se vê?

Na coragem de uma rutura

Eu escondo-te a chorar, e perseguido
Por uma voz de aço que penetra.
Frederico García Lorca, in Amor Obscuro
foto: worldpressphoto.org
O amor gay na Rússia foi mais forte do que a guerra, titula o jornal Público sobre o World Press Photo; com destaque para o dinamarquês Mads Nissen que esteve dois anos na Rússia a acompanhar minorias sexuais.
Ah! A legenda do Público à foto vencedora do World Press Photo é excelente!
Merece ser copiada: “Jon e Alex fotografados pelo dinamarquês Mads Nissen, que quer mostrar ao mundo como as minorias sexuais são perseguidas na Rússia

E pensava eu que eram só as religiões que massacravam a sexualidade.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Exercício de futuro

Ninguém sabe de onde pode soprar.
Herberto Helder, in Do Mundo
foto:cm-guimaraes.pt
Solidariedade em Guimarães não é retórica, é uma prática; é levada às pessoas.
Domingos Bragança, na visita de Jitsiro Yamada, vice-presidente do Lions Clube Internacional

Tempo de enfrentar outras realidades

foto: exame.abril.com.br
Não foi o meu camarada (assim se chamavam os jornalistas) …, escreve Henrique Monteiro, a abrir a sua crónica “Hoje sou adepto de Keynes”, no semanário Expresso (15.02.14).

Era, sim senhor! Assim que os jornalistas se tratavam. Lembro-me tão bem!
Como é que hoje se tratam?

Indisfarçável mediocridade

Tenho aprendido muito convosco, ó amigos homens.
Ruy Cinati, in Antiguidades burlesco-sentimentais
A jornalista Joana Gorjão Henriques assina no passado dia 10 uma peça – “os policias disseram que nós africanos, temos de morrer” – bombástica. Não, não, longe de mim pensar em qualidade jornalística (essa é inquestionável), mas na estapafúrdia mania de que só os outros é que são os maus; fora de Portugal.
O trabalho da jornalista do Público não está com palavrinhas mansas ou rodriguinhos; dá a voz a quem sofre.
Sem mais comentários – é para pensar e agir –, reproduzo um ou dois exemplos:

«Bruno Lopes é algemado e levado para a esquadra de Alfragide, a cerca de um quilómetro dali. “Bateram-me com o cassetete, davam pontapés”, diz o Bruno Lopes». «Rui Moniz tinha ido tratar de umas papeladas numa loja perto, e foi “apanhado” pelos polícias”. O jovem sofreu um AVC e tem uma mão imóvel, acusa igualmente os agentes de lhe baterem. “Começaram a encher-me de pontapés, arrastaram-se até à esquadra. Mandaram levantar a cara, e depois deram socos”».

Leio a excelente reportagem de Joana Gorjão Henriques e não consigo ver a cor das intervenções; de agressores ou de agredidos. Mas imagino a dor e a violência. E pergunto-me não vivo eu num estado de direito?
É demais!

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Crónica do além

O silêncio chama a atenção. Pode impressionar. Tornar-se enigmático. Ou suspeito.
Milan Kundera, in A Festa da Insignificância
Somos cada vez mais e mais a viver na mesma casa comum, não somos?
(A terra está farta de tanta gente!
Será que a Terra compreende os seus ocupantes ou quem se diz seu habitante faz tudo para a ignorar?)

Inocente humano como sou, muitas vezes dou por mim a pensar que a minha casa só tem o espaço que (considero) essencial; sim, bem sei, tenho sempre um quarto vazio
( mas isso sou eu.
E se todos fizéssemos o mesmo? A terra, grande planeta que nos suporta e grama, que diria?)

Eu sei, sei muito bem – e os prestadores de serviços que nos arrebatam os orçamentos também – o quanto custa (por mais pequeno que seja) manter com dignidade em espaços pequenos como o meu torrão.

A Terra está farta de tanta gente, não está?
Como a compreendo!
E então quando, pensando que podemos estar em paz e sossego, temos que gramar com centenas (serão milhares) de tipos sem escrúpulos que inundam o espaço baixo da cidade em barulhos matadores, choro pela Terra. Desejando o seu silêncio. Já não chegava roubar-lhe outras harmonias


Minha querida, nós vamos já a seguir. E tu recebes-nos? Iremos surdos pelo ruido à volta ou com receio do fim que se aproxima?

olhando a cidade III

  O que ainda falta em Portugal é a presença vegetal. As cidades são muito cinzentas , especialmente na periferia. Sónia Lavadinho, consulto...