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A mostrar mensagens de março, 2021

caminhos de intuição

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              na escada; à direita as máscaras ignoram os corpos que circulam; aquecem a luminosidade branca que as observa fico com medo, tantos disfarces!   quatro máscaras fúnebres resignadas ; a escuridão da sala é perfeita – dois corpos esguios; ainda há disfarces embusteiros e deuses agressivos nas máscaras?   vi-te!, há instantes. não me reconheceste. por detrás da máscara. a quietude leva tempo a acomodar-se, não é?

Circulação incessante

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O tempo do fim está aí, diante de nós, a assombrar-nos, e já não é apenas no plano existencial e metafórico: a frase anuncia a forma contemporânea do desastre, já não é “o deserto cresce”, mas a “extinção aproxima-se”. António Guerreiro, Ípsilon , 18.11.09   1 . Nunca dou nada por adquirido. E nos dias que correm as certezas não param de escassear. Mas há, não se duvide, vontade, atitude e modos de olhar o futuro que fazem diferenças. Qua aquecem a frieza e a solidão dos dias. Senti-o bem recentemente. E não foi, apenas, no décimo piso.   2 . Rememorando – se é que um internamento se recorda –, a minha passagem pelo piso 10 há uma certeza que me fica: a solidão, a reflexão e o sentimento sempre foram ajuda fundamental que acertam o rumo da Humanidade. Senti-me, por uns dias, um cidadão do mundo. Não pela dor e confinamento, mas pela real certeza de que nunca se pode viver só. E porque senti como importa refletir contra a agitação dos dias.   3. Quando, depois da pa

Destruição de um jardim

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Dizem os cientistas que essa probabilidade [de que a covid-19 teve origem na transmissão de animais para o homem] vai aumentando à medida que a expansão humana ocupa os habitats animais, ou estes desaparecem pela desflorestação ou devido às alterações climáticas. José Cunha, reflexodigital , 20.04.02   1. A minha recente positividade covídica trouxe-me imensas preocupações; incomensuráveis incertezas. Algumas, por razões da pré-história covídica, ganharam corpo. Um corpo mais robusto. E deixaram tantas dores!   2. Desde logo, uma dúvida que no (meu) tempo covidico se tornou uma triste realidade: a caminhada à hora de almoço (em tempo de teletrabalho) pela Horta Pedagógica, ia dando resultados orgânicos morreu. Até que esse prazer me foi retirado. Raio de vírus!   3. Uns tempos depois; tempo suficiente (será?; o tempo covidico é ingrato e traiçoeiro!) para entender pormenores que nos deixam cegos, fica-me uma certeza: são muitas as dores e resistências que vão ficando; ficaram, na ve

Obrigado imenso

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O tempo covid está dissolvido na água dos dias iguais. Clara Ferreira Alves, E , 20.10.17 E (quase) no final de um percurso que se fez de dores, agitações, muitas incertezas e dúvidas , importa trazer aos dias que correm a importância da realidade. Importância que é, no fundo desta realidade pandémica, o contacto com quem sabe.   1. A médica e a enfermeira de família; da minha família, foram sempre presença nos momentos covidícos por que passamos . Por telefone sempre orientaram e ajudaram. Muitas vezes, com chamadas ‘fora de horas’, mas sempre com o mesmo tipo de preocupação e orientação. E quando assim é, sentimo-nos mais seguros, não é?   2. Por via de qualquer dúvida: fiz o teste à covid-19 no dia 25 de janeiro; às 13H00. No mesmo dia, cerca das 23 horas, recebi a sentença: positivo . O rastreio de contatos aconteceu no dia seguinte, a meio da manhã. O telefonema foi rápido. Porque as respostas eram óbvias.    

Beleza transformadora

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Estava a tentar encontrar o caminho dentro da loucura atual. Salman Rushdie, Ípsilon , 20.10.16 M anhã de domingo. Regresso às hortas. Perdão! À Horta Pedagógica de Guimarães . Afinal, é mesmo ali! Ao pé de casa. Sempre disponível para receber as agruras das horas más. Sol lindo. E as árvores com rebentos. A vegetação a dizer que depois do inverno; tenha ele a forma que tiver, a primavera é sempre a normalidade seguinte. E o Couros que corre com tanta água! Diria límpida; mas tenho medo de ainda não estar com o olhar arrojado como antes das dores que retiveram o corpo e a vontade. Uma certeza eu tenho: com debilidades na caminhada, muito lenta e dorida para os músculos, o espírito é outro. É tão bom ver o piso 10 daqui; l onge das camas de internação!

Vibrações positivas

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À pandemia de Trump, à febre de Bolsonaro e à disenteria de Ventura não se deve juntar a falta de imaginação e de esperança que é o estado geral do alarmismo e derrotismo. Afonso Reis Cabral, Público , 20.03.05 (edição dos 30 anos)   Só hoje, quinta-feira, estou a ler o Expresso , da passada sexta-feira. Ainda bem! Não gostaria de ter estado internado com as fotos de Rui Duarte Silva e Tiago Miranda que ilustram o texto de Christiana Martins na minha memória toda baralhada. E no meu espírito á procura da acalmia dos dias. Mas gosto de jornalismo e textos assim: um país em carne viva . São abanões na nossa estúpida indiferença, na nossa mania de que dominamos tudo. Até o sítio que não já não é nosso! Felizmente que há sempre uma Beleza transformadora .  

Corpo em suspensão

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Posso ir embora daqui a instantes, deixando inacabado este texto. Mas a verdade é que, sem garantir que chego ao ponto final, o estou a escrever cheio de futuro. João Aguiar Campos, Igreja Viva , 19.01.03   Primeiro dia em casa. Tarde linda de sol. Na rua passam carros; sempre. Muitos e a velocidade de desejos por cumprir. Como seria se não fosse a zona calma que é suposto ser?!   Casais passeiam os filhos ao sol. Imagino que vão para a Horta Pedagógica de que tenho tantas saudades. Deve ser defeito meu ou do meu olhar provocado pela dor e prisão em quarto, depois da enfermaria, mas parece-me gente a mais a passear a meio da tarde. Se calhar, como não tenho acompanhado as noticias, já não há confinamento!   Depois da primeira tarde a olhar da minha janela só podem acontecer vibrações positivas !  

Confiança alta

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Ficamos em casa, lemos livros e assistimos a séries na televisão, mas de facto, estamos a prepara-nos para a grande batalha de uma nova realidade, que nem somos capazes de imaginar, chegando devagarinho à conclusão de que nada jamais será como era antes. Olga Tokarczuk, Prémio Nobel da Literatura, Expresso , 20.04 25   1. Afinal, mesmo estando já em casa, não larguei o pijama; tenho confinamento obrigatório de uma semana! Estou, é verdade!, sozinho, no meu quarto de sempre. (A Zé foi ‘corrida’ para o outro quarto, mas não me deixa em paz. Gosto dessa casmurrice tão carinhosa! Obrigado Zé! És um amor. Sem forças e com esta dificuldade em mexer as pernas o que seria de mim sem a tua proximidade?)   2 . Num desafio (ou preocupação) gostava de deixar uma sugestão para quem vai ser internado: objetos a levar:  uns fones; ou auscultadores. Evitam tardes de TV em modo arraial .   Ah! Agora já não tenho o corpo em suspensão .

Viagem abençoada

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Ao mesmo tempo que mudamos, os sítios também mudam. Piotr Anderzewski, E , 19.09.21   O meu regresso a casa depois da alta hospitalar foi feito numa ambulância do Centro Hospitalar do Ave ; dois jovens simpáticos e prestáveis como já não via há muito. Em termos profissionais foram excelentes! Mas não só, a maneira como um e outro se disponibilizaram para ajudar devia constar dos cânones de certas empresas. Que gente prestável e simpática!   O fim de tarde estava frio. E chovia. Foi o pior! Não esqueço o esforço que fizeram para entrar na garagem do bloco onde vivo para que eu não sentisse a chuva e o frio. Quando assim é nem a chuva o frio nos travam. Obrigado, meus senhores! Infelizmente o veículo era mais alto!   Nota de rodapé – fico muito feliz pelo reconhecimento por parte da ARS Norte na boa prática clínica ao Hospital de Guimarães; no que á covid diz respeito. Senti bem de perto aspetos salientados na avaliação, por enquanto por lá estive.   Uma nota final que me fez pensar: t

Caminhos da luta

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Não se terá dado o caso de termos regressado a um ritmo de vida normal? De o vírus não ser o distúrbio da norma, mas precisamente o contrário – o mundo agitado antes do vírus é que era normal? Olga Tokarczuk, Prémio Nobel da Literatura, Expresso , 20.04 25 Amanhã largarei o pijama e o piso décimo. Finalmente! Tenho saudades da ganga; dos jeans e dos pés no chão. Mas tenho medo aos pés; não sei como reagirão ao piso duro. Estão sem músculo. E então as pernas! Doem. Como se eu estivesse a sair de uma corrida tremenda. Prendem-me ao sítio. Amanhã, sim! será uma Viagem abençoada!  

Encontros imprevistos

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Mais do que qualquer outra coisa, esta pandemia derrubou, completa e finalmente, a ideia de que os indivíduos que estão na liderança sabem o que fazem. Muitos deles nem sequer fingem que estão a liderar. Barack Obama, in Visão , 20.05.21   Da urgência covid, onde dei entrada nos primórdios de fevereiro, tenho poucas memórias. Sentia-me um não eu; baralhado. Confuso. Fora de mim. E com falta de oxigénio.      (percebi, depois, o que me ensonava. mas senti.                e a experiência não é coisa que possa deliciar.)   Mas nem tudo se apagou da minha memória (perdida com as brancuras provocadas pelas traquinices da queda oxigénica)  recordo – recordarei  – o carinho e cuidado dos profissionais que naquela noite foram os meus sacrossantos heróis.   E pronto! Depois dos caminhos da luta , seguir-se-á o retorno aos entes.  

Chorar faz-se longe de casa

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Estamos defronte de uma doença séria . As pessoas não se aperceberam imediatamente da gravidade do problema, que não é só das pessoas idosas. Nunca pensei que na minha vida iria encontrar algo t ão parecido com os grandes problemas da II Guerra Mundial . António Damásio, Público , 20.11.29   1 . Com o tubo estreito que distribui o oxigénio pelas narinas introduzido no nariz parecemos astronautas que não se podem mover para muito longe da cápsula. Por mim, neste décimo piso, não é muito grave. Tenho a janela de frente. Mesmo ali. É todo um mundo com novas visões.   2 . Não sabes como colocar a ligação do oxigénio no nariz? Aprende depressa. Não há tempo para explicações. Pelo menos em tempos pandémicos.   3 . Na enfermaria não és dono de ti; do teu tempo. Dependes sempre da qualidade dos profissionais de saúde; daqueles que dão tempo e qualidade ao teu tempo.   4 . Entrar de madrugada na enfermaria, para seres internado, é entrar de gatas na vida . O que vale

Bom pressentimento

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Eu sou um grande fã de cidades. Sempre quis que elas fossem personagens dos filmes. Woody Allen, E , 19.10.19     06H58. E a lua já subiu na cidade. Desde as cinco horas que acompanho o seu percurso. Agora o céu aclarou. Tem manchas vermelhas no regaço. A cidade continua calma. É domingo. E já recebi a prometia visita clinica. O dia promete.   07H24 o céu mesclou-se de azul e vermelho. Que beleza!   A tarde, depois de um almoço que parecia saído das mãos de um chef de um dos restaurantes com marca, tornou-se nostálgica. Deu para ouvir Deep Purple (que bom ter alguma música na memória do telemóvel). É o que faz não ter intenet por estas bandas! Mas sabe sempre bem recordar grandes bandas. E no piso dez; enquanto olho a cidade até não se está mal.   Ah! Chorar faz-se longe de casa .

De surpresa em surpresa

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[o vírus] mostrou-nos que a nossa agitação frenética ameaça o mundo. E voltou a colocar-nos a pergunta que raramente tivemos coragem de colocar a nós próprios: o que é que, na verdade, procuramos? Olga Tokarczuk, Prémio Nobel da Literatura, Expresso , 20.04 25   Guimarães acorda cinzenta. Parecia, mesmo no raiar da luz, apenas uma neblina, mas, de repente, o céu assevera um dia triste. As luzes já desapareceram; da Penha só uma cerração pesada a esconder os seus encantos. Foi dura esta noite! Mais sono por agora! É fundamental acalmar as entranhas espantadas pela agitação da noite. Mas, assim de repente, parece-me que há por aí um bom pressentimento .

Luta dura

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  Há alguns indícios de que podemos vir a sentir-nos espetadores diferentes com os nossos corpos pós-pandémicos. Isabel Salema, Ípsilon , 20.12.23   Não é bom ver alguém em desespero. E, confesso, há realidades desanimadoras, que só as tinha visto como cenas no cinema. Numa me imaginei perto da realidade que esses quadros dramáticos transmitem. O que só dá razão à máxima: há realidades que estão mesmo ao nosso lado; muito mais próximas do que imaginamos.   Nesta na minha passagem pelo décimo piso acordei, não com uma cena de um filme, mas com uma realidade bem séria; ali mesmo ao meu lado. O ator forçado era um colega de enfermaria, no internamento, numa ação que se fez de um imenso alvoroço. Nunca me imaginei a acordar com uma equipa de profissionais de saúde entrando em tanto rebuliço pela enfermaria adentro. Fecha-se a cortina e o som do oxigénio aumenta de intensidade. É final de domingo.   Ainda estivemos pelo décimo piso uns dias. Tive alta, entretanto, e acredi

Espaço em volta

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É nos cinzentos que se encontra muitas vezes a verdade. Mário Cláudio, Minha , janeiro 2020   As nuvens daqui do décimo andar agarram formas belas; mais belas que as nuvens de todos os dias. Umas, serão deuses para quem não vê que deus é uma criação do homem. Outras serão, seguramente, animais míticos e bélicos mais poderosos. Também essas assumem criações pias. O que quer que sejam, aquelas formas sublimes sobre a cidade colocam-me na bandeja da felicidade um final de tarde fabuloso, extraordinariamente belo; cheio de luz. Quem disse que um internamento, mesmo que pelo vírus dos dias que correm, não pode ser (para a grande maioria) um momento menos intenso, quando olhado pelo lado do desejo poético dos olhares?   Uma nota de rodapé : Não percebo por que há tanta gente a dizer que a comida no Hospital não é boa. Só quem faz questão em manter uma alimentação salgada é que pode dizer isso.   Ah! Virá, depois, uma luta dura .

Linha dos dias; subtil

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Se perguntar o que é o amor, a ciência não sabe responder. Carlos Fiolhais, E , 19.02.09 1. É sábado, sinto-me perdido e com a impressão de que toda a gente em todo o mundo sabe tudo sobre mim. Observa-me. Como eu que examino a cidade do décimo andar.   Odeio os parvos, e são muitos, que cruzam a circular urbana. Como detesto, os outros, que, passeiam pelas ruas da cidade. Deve ser alguém para quem a palavra confinamento não existe. Não os quero ver aqui. Aconselho-os vivamente as escutarem as palavras do António Durães, com aquela voz maravilhosa que não deixa ninguém indiferente, a dizer-nos como o vírus entra na festa.             Equipa covid; na urgência covid – eu com frio e cansado, desorientado –, sossega o descontrolo que me faz perder o desejo de devir e sossega-me num repouso até ao internamento. Uma equipa (em trabalho seguido num conjunto enorme de dias) que foi dos grandes exemplos do melhor espírito de grupo e de trabalho em equipa que vi. Tanta juventude po

Boleia segura

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Para que um mundo melhor surja após esta pandemia, devemos abraçar e fomentar sentimentos de humildade e solidariedade gerados pelo momento atual. Orhan Pamuk, E , 20.05.09   A comunicação sempre foi fundamental para aproximar as pessoas. E então quando se fala de quem nos é mais próximo ou que desejamos próximos, ela tem a importância de uma certeza: os amigos são sempre amigos. Sempre soube disso, mas senti-o, de forma intensa e saudável, nos dias em que o vírus do momento resolveu tomar conta de mim; e deixar-me entre o confinamento caseiro e a cama do Hospital. Foram imensos os abraços e beijos que me foram endereçados. O telefone tocou muitas vezes, mas não atendi; a voz ainda não me deixava falar muito tempo. As mensagens todas tiveram resposta.   E foram muitas as missivas recebidas. Todas vestidas de sentimentos, traços que perduram. E deixam um calor forte que aquece por dentro . Num critério muito pessoal deixo algumas: ·          Vai correr tudo bem, de certeza! E vai passa