Circulação incessante

O tempo do fim está aí, diante de nós, a assombrar-nos, e já não é apenas no plano existencial e metafórico: a frase anuncia a forma contemporânea do desastre, já não é “o deserto cresce”, mas a “extinção aproxima-se”.

António Guerreiro, Ípsilon, 18.11.09

 

1. Nunca dou nada por adquirido. E nos dias que correm as certezas não param de escassear.

Mas há, não se duvide, vontade, atitude e modos de olhar o futuro que fazem diferenças. Qua aquecem a frieza e a solidão dos dias.

Senti-o bem recentemente. E não foi, apenas, no décimo piso.

 

2. Rememorando – se é que um internamento se recorda –, a minha passagem pelo piso 10 há uma certeza que me fica: a solidão, a reflexão e o sentimento sempre foram ajuda fundamental que acertam o rumo da Humanidade.

Senti-me, por uns dias, um cidadão do mundo. Não pela dor e confinamento, mas pela real certeza de que nunca se pode viver só. E porque senti como importa refletir contra a agitação dos dias.

 

3. Quando, depois da passagem pelo décimo piso, voltei para casa confirmei essa certeza: a Zé – também ela infetada com o vírus mais conhecido dos dias que nos amarguram, embora com sintomas ligeiros –, foi também atriz de uma realidade que nos transportou a um palco diferente.

Não conheço o encenador da dor que criou a triste realidade covídica, mas conheço muito bem o palco dos dias que nos agitam sob as luzes cénicas; da vida.

Voltamos, pois, a ser atores! Tenho a certeza de que com interpretações ainda mais robustas.

 

Nota de rodapé: voltaremos a Melgaço, não tarda. Para mais um grande momento de nós.

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