prisioneiro da liberdade
porquê os braços abertos – estampados – na parede? um corpo dependurado não é sinal de morte ou de prisão? não compreendo a tua noção de liberdade. detesto a escuridão estampada na parede fria de cada noite. se mexeres as mãos elas sangram. doem-te. de onde vem tanto sangue? alegra-me nesta data tão livre isto: liberta o teu corpo da parede. gosto de te ver de braços abertos, mas detesto a tua cara de sofrimento estampada neste dia tão feliz! (seria por isso que a freira não matou o pai?) percebeu depressa que não há nada de mais profundo e integrante do que o enigma da existência. está explicado aquele sorriso amarelado; ironia bacoca! ao fundo da nossa rua ouve-se a cigarra vistosa que ensanguentou todas as memórias . gostava de ser como a água: com mais liberdade de movimentos. chegaria – muito mais facilmente – bem junto da porta principal do céu. onde a luminosidade é muito mais branca; sem tremuras, à tarde, e estupidamente pintada de azul, à noite.