Maravilho-me
do que não consegui ver. Estranho quanto fui e que vejo que afinal não sou.
Fernando
Pessoa, in Livro do Desassossego
1. Na edição
de junho do le Monde diplomatique questiona-se se “será a política um desporto
de elite”, tendo como pano de fundo a derrota eleitoral “estrondosa” dos
trabalhistas ingleses.
Hoje, por
aqui, não me interessa falar senão da Grécia. Mas a pergunta sobre a politica
faz sentido quando se olha para o que está a acontecer na e com a Grécia. Começo
por Alexis Tsipras (em entrevista a um diário austríaco, mas citado pelo JN do
dia 20: “na Europa temos a ilusão de que somos o umbigo do mundo, cooperando
com os nosso vizinhos mais diretos. Mas o centro do mundo mudou de lugar”.
Realidade que não queremos aceitar.
2. Pensando calmante
sobre as duas afirmações é tremendo pensar – ainda que ao de leve – no que vai
ser a Europa já a seguir.
Esta afirmação
de Ricardo Reis (Dinheiro Vivo, 15.06.20) pode dar uma ajuda: “estamos hoje
numa situação de ver o berço da civilização afastar-se da Europa e abraçar a
influência russa”.
3. Não terá
Nicolau Santos (Expresso/Economia) razão ao escrever que “o mundo dos poderosos
uniu-se contra o governo do Syriza. Porque o Syriza ousou desafiar o status quo, e isso é perigoso”?
4. Pedro
Santos Guerreiro (Expresso, 15.06.20) parece dar razão a Nicolau Santos.
Reparemos: “o Syriza tornou-se inacreditável e Bruxelas intolerável. Fazemos ou
desfazemos a Europa?”
5. Vale a
pena ver o que pensa Yanis Varoufakis, citado pela revista E: Nós não estamos
especialmente preocupados em manter as nossas posições. Portanto, isso
destabiliza o outro lado. Eles estão habituados a políticas que fazem realmente
questão de manter as suas posições. E nós não somos assim. Não nos importa. Queremos
fazer o que é correto, e se não podemos fazer o que é correto, vamos embora”.
6. Aconteça
o que acontecer a seguir é importante ler a reportagem de Penny Bouloutz, in
Kathimerlni (Atenas) do dia 15 de março e citada pelo Courrier internacional de
junho: “na Grécia, tantos os doentes como as farmacêuticas têm de ter nervos de
aço se quiserem obter medicamentos. As farmacêuticas internacionais estão a
fornecer o mercado a conta-gotas. Resultado: faltam aspirinas, vacinas,
antidepressivos, antiepiléticos e antipiréticos nas prateleiras das farmácias”.
Perceberemos
o que é e o que será a Grécia e o caos que por ali reina.
7. Volto a
Pedro Santos Guerreiro “Sem rasgo na Europa rasga-se a Europa”.
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