sábado, 20 de junho de 2015

A realidade já não é o que foi

Maravilho-me do que não consegui ver. Estranho quanto fui e que vejo que afinal não sou.
Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego
1. Na edição de junho do le Monde diplomatique questiona-se se “será a política um desporto de elite”, tendo como pano de fundo a derrota eleitoral “estrondosa” dos trabalhistas ingleses.
Hoje, por aqui, não me interessa falar senão da Grécia. Mas a pergunta sobre a politica faz sentido quando se olha para o que está a acontecer na e com a Grécia. Começo por Alexis Tsipras (em entrevista a um diário austríaco, mas citado pelo JN do dia 20: “na Europa temos a ilusão de que somos o umbigo do mundo, cooperando com os nosso vizinhos mais diretos. Mas o centro do mundo mudou de lugar”. Realidade que não queremos aceitar.

2. Pensando calmante sobre as duas afirmações é tremendo pensar – ainda que ao de leve – no que vai ser a Europa já a seguir.
Esta afirmação de Ricardo Reis (Dinheiro Vivo, 15.06.20) pode dar uma ajuda: “estamos hoje numa situação de ver o berço da civilização afastar-se da Europa e abraçar a influência russa”.

3. Não terá Nicolau Santos (Expresso/Economia) razão ao escrever que “o mundo dos poderosos uniu-se contra o governo do Syriza. Porque o Syriza ousou desafiar o status quo, e isso é perigoso”?

4. Pedro Santos Guerreiro (Expresso, 15.06.20) parece dar razão a Nicolau Santos. Reparemos: “o Syriza tornou-se inacreditável e Bruxelas intolerável. Fazemos ou desfazemos a Europa?”

5. Vale a pena ver o que pensa Yanis Varoufakis, citado pela revista E: Nós não estamos especialmente preocupados em manter as nossas posições. Portanto, isso destabiliza o outro lado. Eles estão habituados a políticas que fazem realmente questão de manter as suas posições. E nós não somos assim. Não nos importa. Queremos fazer o que é correto, e se não podemos fazer o que é correto, vamos embora”.

6. Aconteça o que acontecer a seguir é importante ler a reportagem de Penny Bouloutz, in Kathimerlni (Atenas) do dia 15 de março e citada pelo Courrier internacional de junho: “na Grécia, tantos os doentes como as farmacêuticas têm de ter nervos de aço se quiserem obter medicamentos. As farmacêuticas internacionais estão a fornecer o mercado a conta-gotas. Resultado: faltam aspirinas, vacinas, antidepressivos, antiepiléticos e antipiréticos nas prateleiras das farmácias”.
Perceberemos o que é e o que será a Grécia e o caos que por ali reina.

7. Volto a Pedro Santos Guerreiro “Sem rasgo na Europa rasga-se a Europa”.

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Olhando a cidade V

Fizemos cidades muito hostis para as crianças. Sónia Lavadinho, consultora em mobilidade e desenvolvimento territorial, Visão , 24.11.14