Quero ter a raça humana toda contra mim. É uma alegria que me consolará de tudo.
Baudelaire
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foto: geledes.org.br
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Do extraordinário texto retenho duas ideias.
A primeira – “é sabido que a extrema agressividade do Ocidente tem causado a morte de muitos milhares de civis inocentes (quase todos muçulmanos) e tem sujeito a níveis de tortura de uma violência inacreditável jovens muçulmanos contra os quais as suspeitas são meramente especulativas” – não deixa dúvidas sobre a forma como o mundo está cada vez mais dividido sobre o futuro e sobre a ideia de quem domina (ou, dizem alguns, deve dominar) quem.
Depois, a segunda, vinca de forma clara como «uns são melhores que os outros» e, por isso têm que dominar. Escreve o sociólogo: “a resposta francesa ao ataque mostra que a normalidade constitucional democrática está suspensa e que um estado de sítio não declarado está em vigor, que os criminosos deste tipo, em vez de presos e julgados, devem ser abatidos”.
Mas não é só em França, agora que as coisas em mudança são mais nítidas, não que tudo está em mudança. Também em Inglaterra se abriram muito as portas para o exagero: “se em Inglaterra um manifestante disser que David Cameron tem sangue nas mãos, pode ser preso”. E termina assim a sua ideia o sociólogo: “em França, as mulheres islâmicas não podem usar o hijab”. Ou seja, há muito que Inglaterra e França vão fazendo de conta que respeitam a liberdade de alguns e principalmente a liberdade de expressão.
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foto: blogdaboitempo.com.br
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O pior é que nenhum estado europeu (mas não só, diga-se) está preocupado com o essencial: “a crise social causada pela erosão da proteção social e pelo aumento do desemprego, sobretudo entre jovens, não será lenha para o fogo do radicalismo por parte dos jovens que, além do desemprego, sofrem a discriminação étnico-religiosa”?, vinca Boaventura Sousa Santos.
Mas a isso, nós cidadãos acomodados e sempre prontos a abanar com a cabeça, dizemos nada. Talvez adoremos o poeta francês tenha razão e desejemos ter a raça humana toda contra nós.
Por isso, o editorial do semanário Expresso (15.01.17) – “a ressaca dos acontecimentos de Paris obriga-nos a ter cuidado sobre novas legislações securitárias” – não deixa (não devia deixar) dúvidas. A ninguém.
Nota final: é fundamental sublinhar as palavras de Elísio Summavielle (i, 15.01.17): “por Deus há seres humanos que matam seres humanos, e por Deus aconteceu a barbárie de Paris. (…) Sou sempre da liberdade, e gostaria muito de crer que Deus também”.
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