quarta-feira, 24 de junho de 2015

Final de ciclo

Todos nós temos um deus que amamos.
sempre. Às vezes. Nunca
nunca, quando o amamos o podemos ter.
Marta Duque Vaz, in Aclive
imagem: catoliscopio.com
1. Com um estrondo que ninguém esperava, Francisco, o líder católico mais aberto e com olhar muito para além dos dias, apresentou Laudato Si, uma encíclica, como tantas outras com que os papas vão marcado os seus pontificados. Só que este olhar sobre o cuidado da Casa Comum não é uma encíclica qualquer.
Percebe-se, portanto, que o semanário Expresso titule Papa contra o ‘depósito de porcaria’ (15.06.20), acrescentando que “Francisco defende o ambiente e critica submissão da politica à finança”.
Ou que o diário Público, também em título, escreva (15.06.19) que o “papa coloca igreja no centro do debate ambiental e climático”. Aliás, em editorial, o mesmo jornal vinca: “volta a fazer-se história no Vaticano”.

2. Para se perceber o que está em causa neste texto da responsabilidade do papa Francisco, ou melhor, do impacto que ele trará aos dias que correm, recorro a Isabel Varanda (Igreja Viva, 15.06.18): “sendo ainda a questão ecológica uma questão marginal de preocupação da maior parte dos nossos contemporâneos, não se estranharia que o anúncio da encíclica do papa suscitasse uma relativa indiferença. O facto é que se verifica o contrário”. O que, no mundo consumista e tremendamente destruidor é extraordinário. Recordo aqui o que escrevi sobre apoluição nas cidades.

3. Por que será? Importa voltar ao jornal Público e ao texto de Ricardo Garcia. A terra, o planeta onde todos nós habitamos, está a transformar-se “num imenso depósito de lixo”. Daí que, diz o texto papal, os países ricos têm que pagar a “dívida ecológica” aos mais pobres. Muito bem, mas não chega. A Terra, assim, vai-se; para pobres e ricos.

4. O texto Laudato Si é um documento com 192 páginas que “junta a fé e a moral à razão e ao engenho”. Mas, é verdade!, não é um texto qualquer. Para além dos habituais destinatários dentro da igreja católica, desta vez, a igreja de Roma, saiu do seu habitual resguardo vaticanista e olha para a Casa Comum. Ótimo. Afinal, a Terra é universal.

5. O que importa mesmo vincar por ‘culpa’ desta ousadia do papa Francisco é que é urgente a Humanidade perceber que tem que mudar “o seu estilo de vida, de produção e de consumo”. Mas será que vamos entender? Aqueles que se limitam aos altares chegarão a toda a Terra?

6. Felizmente que a encíclica foi bem recebida e saudada por líderes religiosos, ambientalistas, investigadores e dirigentes de organizações internacionais. O que se pode ser um excelente sinal de que haverá mais acções para além da excelente iniciativa do Vaticano.

Sem comentários:

Olhando a cidade V

Fizemos cidades muito hostis para as crianças. Sónia Lavadinho, consultora em mobilidade e desenvolvimento territorial, Visão , 24.11.14