Para mim mudar, passar de uma coisa para ser outra, é uma morte parcial.
Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego
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Foto do filme Amor – de Michael Hanecke –, retrato violente de uma certa velhice. |
Quando Tolentino Mendonça escreve (Revista 14,06.21) que “a velhice resiste a tornar-se um tema socialmente relevante, mesmo num país cuja média etária sobe continuamente e onde a marginalização dos idosos é um facto impossível de ignorar” tira-me do sério. Enerva-me. Agita-me muito; para além do meu comodismo.
A verdade, porém, é que Tolentino Mendonça não só está vestido de razão como toca, com uma enorme intensidade, numa das mais sangrentas feridas dos dias que atravessam Portugal.
Independentemente de conhecer bem de perto esta realidade – algo que “não é coisa bonita de se ver” em muitas situações; como vinca o também poeta – seria importante que quem está sempre a dizer que fala para as pessoas, para os cidadãos (só lembrados nos atos eleitorais); falasse mesmo para as pessoas. E agisse. Com as pessoas.
Principalmente as mais idosas. Cansadas da vida e ofendidas por promessas vás (convém vincar que os mais idosos dos dias que correm foram os sofredores de um estado novo parvo, agressivo e sem princípios).
O resto será mesmo ignorar que a velhice é só uma etapa na vida das pessoas.
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