domingo, 12 de abril de 2015

De volta à origem

Ouço (mesmo junto à surdez dos meus ouvidos); por aqui, uma voz dizendo-me que somos confinados a ir além da natureza. Será?
Ao que me diz esta voz melodiosa, mas de timbre de mel forasteiro nenhum ser humano esquece o momento em que perde o pai; não acredito que pudesse ser de outra forma! Recordarei sempre o momento em que, com o corpo já irrespirável, encontrei o meu pai de saída. Foi ingrato! Era mesmo final de dia; um dia diferente que me tinha colocado na caminhada violenta que (todos) sabíamos onde levava.
Senti diferenças; dificuldades, muito ruido respiratório. Mas – raio de calendário! –, mesmo depois de um feriado é preciso voltar a casa. Mais uma noite pela frente. Junto de outros corpos quase moribundos. E a merda do telefone! Eu chorava.

Fomos. De volta à (minha) terra natal. Abrimos a porta – tão depressa que a abrimos!, afinal as raízes são já ali!, foda-se…
Antes; pouco tempo antes, tinha olhado o horizonte, a noite a crescer e o vazio engolidor do dia a devorar outros olhares, evasivos, sem vigor.

O que se passou naquele princípio de noite em que atendi o telefonema (há muito já marcado) foi mesmo o dia que morri.
O corpo gasto pela doença. Segui-o! No início, era uma pintura – pintava tudo; tudo. Aproveitei, depois, a explosão de pinceladas e tentei seguir a arte campestre. A arte urbana – naquela noite – nada me deu. Havia, que bom!, a simplicidade da natureza.

O meu pai? Então aquele quadro ali mais acima, no campo – a agra antes intensa que morre agora!? Os verdes e as novidades já não o são? Vicissitudes não há.

A terra; a nossa terra continua a engolir-nos. E a chamar.

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Olhando a cidade V

Fizemos cidades muito hostis para as crianças. Sónia Lavadinho, consultora em mobilidade e desenvolvimento territorial, Visão , 24.11.14