Recortes dos dias II



Condenada a uma replicação acrítica da contabilidade de novos contágios em cada dia, a imprensa vimaranense prescindiu de fazer o seu trabalho.

Samuel Silva, reflexodigital, 20.05.07

Volto a olhar para fora do meu pequeno mundo fechado e vejo outro vizinho no prédio da esquerda. Já nos conhecemos de tantos olhares se cruzarem, nas varandas e na rua. Mantivemos a distância – menos do que a distância a que o meu escritório improvisado nestes dias de distância com dos dias de antanho –, mas quando um de nós voltar a olhar do prédio a prédio já mostramos confiança no olhar.

Do outro lado, o vizinho – homem viúvo e só; já com anos contabilizados na década dos setenta – coloca uma toalha bordada em cores berrantes sobre a mesa de plástico na varanda. Posta mesmo do lado esquerdo da sua varanda. Fico a olhar.
Ele caminha em sentido contrário.
Depois volta ao mesmo lugar.
Leva agora na mão um vaso enorme de flores azuis. Parecem-me miosótis.
O tempo para por momentos entre o meu olhar e o olhar do homem; volta a pegar no pincel e senta-se em frente à mesma tela de ontem.

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