espelho do tempo

Quem de nós falará aos homens que hão de vir quando o grande clarão encher de luz e pasmo as nossas bocas?
António Gedeão, in  Poemas Póstumos
dois espelhos esperam por mim. frente a frente. não sei qual será o meu. nem sei, tão pouco, se são gémeos um do outro. mas tenho a certeza de que o tempo estava bom. e o empedrado das ruas ajudou-me imenso a decifrar os pensamentos que tinham perturbado o sonho e o sono das últimas noites.

o som da noite, aquele som quase sem som, de final de dia e com o tom preso à melancolia de partidas, ficou, de repente
(assim à velocidade inventada para fugir das coisas duras),
totalmente filtrado pela luz. uma luz forte, intensa e branca. que já desce, percorrendo devagarinho e com pés de lã, os espaços pequenos que se esvaziam em pequenas partículas brancas que rodeiam os espaços sem cor e capazes de esconderem os nossos corpos.
– o meu, estava completamente nu. tinha tanta vontade de pôr cá fora os desejos que me minam a vontade!

mas é sempre o mesmo compromisso: aceitar os corpos é aceitar a morte! palavra! e faz tão mal ao (nosso) desejo de crescimento e à (nossa) calma interior.

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