quinta-feira, 4 de março de 2021

Balanço vermelho


Os sorrisos andam vadios. A besta que se soltou, espantou-os. Andam fugidios, refugiados, aprisionados, mascarados e tristes.

Carlos Guimarães, Mais Guimarães, 20.12.09

Há várias formas de começar a contar uma história. Começarei pela mais simples; natural e verdadeira. A mais sentida. A que deixa a memória bem vincada.

 

Fuma muito?, pergunta-me a médica internista.

Espantado, respondo: mas eu já não fumo há cerca de duas dezenas de anos!

Pois não parece! O seu pulmão não se sente bem; nem convive bem dentro de si.

Tenebroso, penso no minúsculo destruidor que me levaria ao décimo piso. Demolidor de vontades e desejos.

Pneumonia provocada pela covid, eis o diagnóstico: 10 a 15% de pulmão infetado.

 

Passaram uns dias e a enfermeira que me acolheu na madrugada na enfermaria no décimo piso diz-me que eu “estava irreconhecível”.

Para melhor?, perguntei.

Para muito melhor, respondeu-me convictamente.

 

Parece-me que vou pensando cada vez menos no senhor covid; para pensar muito mais naqueles que me foram enchendo de coragem e vontade de olhar em frente. Sempre numa boleia segura.

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