Os sorrisos andam vadios. A besta que se soltou, espantou-os. Andam fugidios, refugiados, aprisionados, mascarados e tristes.
Carlos Guimarães, Mais Guimarães, 20.12.09
Há várias formas de começar a contar uma história. Começarei pela mais simples; natural e verdadeira. A mais sentida. A que deixa a memória bem vincada.
Fuma muito?,
pergunta-me a médica internista.
Espantado,
respondo: mas eu já não fumo há cerca de duas dezenas de anos!
Pois não parece!
O seu pulmão não se sente bem; nem convive bem dentro de si.
Tenebroso, penso
no minúsculo destruidor que me levaria ao décimo piso. Demolidor de vontades e
desejos.
Pneumonia
provocada pela covid, eis o diagnóstico: 10 a 15% de pulmão infetado.
Passaram uns dias e a enfermeira que me acolheu na madrugada na enfermaria no décimo piso diz-me que eu “estava irreconhecível”.
Para melhor?,
perguntei.
Para muito
melhor, respondeu-me convictamente.
Parece-me que vou pensando cada vez menos no senhor covid; para pensar muito mais naqueles que me foram enchendo de coragem e vontade de olhar em frente. Sempre numa boleia segura.
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