Destruição de um jardim


Damos cabo das outras espécies, da energia, da água. Há um esgotamento óbvio do planeta.

Manuel Sobrinho Simões, jornal i, 19.07.13

 

1. Das minhas memórias de infância há dois ou três momentos que se cruzam com água; fugindo da escola. Um era, logo a seguir à escola primária – pelos vistos agora é a escola de Pardelhas!, na minha meninice era bem mais simples: escola nova, em contraponto com a ‘escola velha”, mais acima e só com paredes. Mas dizia que dos momentos de brincadeiras e baldas à escola, nós os putos reguilas da escola (e modéstia à parte, éramos e fomos os cincos candidatos ao prémio da Sociedade Martins Sarmento) íamos até ao regato;

hoje um fio de água subornado por donos feitos à pressa e oportunitas das  construções nas suas margens. Com a agravante de vedaram o acesso às qued de água! Basta descer a ribeira que, para que se pudesse chegar à Somelos (nessa altura tinha uma designação bem maior) era uma beleza de percurso rústico e verde.

Deve ser por coisas destas que cada vez tenho menos saudades da terra onde nasci!

 

2. Mas o que, de facto me tira o sono por estes dias, é o que vi por estes dias, na verdade!

Basta olhar para a foto que ilustra este texto.

Lá em cima, também um local de brincadeiras na água da minha infância (esta com menor intensidade de presenças; era mais distante da escola), onde, mais um pouco à frente, hoje está localizado um dos sítios mais belos que conheço (deve ser das memórias do moinho): a quinta da Carpas, começou a destruição

(O meu pai dizia que por ali se chamava de Ribeirinho, mesmo ao lado de Pedra Furada, mas tudo muda tão rapidamente!)

 

3. Tal como já acontece em pelo menos dois sítios lindos da minha memória – perdão!, na minha terra de nascimento – há trabalhos em curso que vão avisando que o “ribeirinho” vai deixar de ser público. Se calhar é só impressão minha, ou da lente do telemóvel!

 

4. Assim espero!

Se assim não for, alguém terá que responder por este atentado (a minha memória pouco importa), contra a memória dos britenses; os britenses, não os atuais moradores de Brito! Frios, distantes, insensíveis e completamente a leste das memórias lindas de Brito.

 

5. Por mim, um britense assustado com o futuro da sua terra e sem rodeios de qualquer espécie, estou totalmente disponível a lutar pelos lugares belos da minha terra de nascimento. Dos sítios da (minha) memória; sítios onde a beleza não se faz de fortalezas ou moinhos, mas da memória coletiva.

 

Nota de rodapé: se for necessário dizer à senhora presidente de junta de Brito que alguém está a destruir a beleza de Brito eu estarei lá. Tal como o farei junto do senhor presidente de câmara de Guimarães, ou dos senhores do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional.

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