Se
chovesse, agora,
o mar
inteiro
me
entraria pelos olhos
Mia Couto
A noite
está bela, João! Que mania que tens de dizer que a felicidade só pode estar
junto dos teus amigos…
Algumas
pessoas, bem sabes!, andam irritadas; procurando conflitos. Fica bem longe
delas; a batalha que eles querem travar não é contigo (nem comigo, ou com a
realidade que nós conhecemos bem) é com eles próprios.
Sabes que
uma delas – belo almoço, João!, que tivemos na margem sul do Tejo! –, quer ser
primeiro-ministro do nosso país? É teu amigo, bem sei; também o conheci, mas,
como bem sabes, não simpatizamos (logo) um com o outro. Nada! Jamais poderíamos
estar lado a lado. Muito menos depois daquela bela refeição proporcionada por
ti na margem sul do Tejo!
Todos
caçamos um deus para a nossa vida, bem sabes! Somos capazes de tudo; de tudo o
que imaginamos, de tudo a que nos propomos…
Não
divagues, João. Antes do teu amigo mostrar aquela faca parva, doentia com que
matou o meu amigo – também sei João, que achavas o meu amigo mais betinho do
que o teu – para agora quer ser
primeiro-ministro. Vá lá João…
Sabes?, os
nossos amigos só têm o primeiro nome em comum. O resto nada tem a ver connosco.
A
diferença – e tu bem sabes, João –, está na facilidade com que o mais seguro da
vida sempre olhou para o humano – algo João, que nos aproximou – que fez de nós
os amigos que somos; nós que estamos agora a centenas de quilómetros de
distância. Desculpa, João, mas sabes muito bem, porque nos conhecemos à brava,
que o teu amigo está parvo, vestido da facilidade da ganância, do frete vítrico
e comezinho. Só quer manter os compadrios…
Mantenho,
como bons amigos que somos, um ouvido no início de uma longa história; mesmo
que a noite já não recorde silêncios macabros.
Pronto;
não continues João com a facilidade do ar
(gosto muito do Eugénio de Andrade. Ah!, pois é, e tu. Por hoje só posso
deixar-te aquele abraço; um abraço, sempre mo disseste, que nos leva para além
das ilusões). Respeito, como sempre, a nossa amizade. Admiro o teu silêncio, nesta altura em que o teu
amigo quer ser primeiro-ministro do nosso país. Coitado! Já quase não
sabe onde pousar o seu desejo louco. Manterei outros silêncios, João, mas, bem
sabes, não quero que o teu amigo seja primeiro-ministro.
Fica bem;
há ausências que são um bom sinal.
Abraço João.
Quando voltamos a almoçar no outro nosso amigo da margem sul do Tejo?
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