domingo, 28 de setembro de 2014

Há outro caminho

Uma névoa de outono o ar raro vela,
Cores de meia-cor pairam no céu.
O que indistintamente se revela,
Árvores, casas, montes, nada é meu.
Fernando Pessoa
O outono não é só a estação do ano que sucede ao verão e antecede o inverno, é o momento solene do boléu na temperatura, do amarelar e queda das folhas. É o “tempo de ocaso”. E ocaso significa pôr-do-sol ou poente, decadência, declínio e ruína, fim, final, termo, morte.

Se o outono se caracteriza por um abaixamento das temperaturas – é a época de transição entre os extremos da temperatura verão-inverno – ele significa a pausa e a moderação. É a natureza a mostrar-nos a sua sabedoria: é preciso deixar partir o que já não serve, para proteger o que é mais importante. Como as árvores, se não deixassem ir as suas folhas não sobreviveriam, queimadas com o frio do inverno. é que os ciclos de respiração da árvore findariam bruscamente, ou seja, o fim da vida.

É verdade que no outono as expectativas que tínhamos começam a murchar, os sonhos parecem declinar como o pôr-do-sol, os nossos projetos parecem amarelar e cair por terra. Mas ai de quem abraça a deceção e a frustração! Será incapaz de resistir ao inverno.

E, afinal, o “tempo de ocaso” que é o outono, também é um desafio para o olhar. Tudo fica mais belo nas cores do por-do-sol. O céu apresenta-se limpo e sereno, de um azul mais profundo e as noites estreladas convidam a apreciar a lua. E, enquanto se vai olhando a lua vale a pena interrogar se o medo e a dúvida são barreiras à realização de ideais. Talvez seja o momento de tomar consciência e assumir uma atitude de compromisso pessoal, desapegando-se daquilo que impede os passos rumo às próximas estações.

Afinal, outono é colheita; não é decadência.

Será que se as castanhas forem comidas devagar, no calor de uma lareira recheada de pessoas, o sabor não é mais intenso?

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