sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O futuro faz-se de compromissos

Num texto publicado na Voz Portucalense (13.11.27), Rui Osório, jornalista (durante muitos anos no Jornal de Noticias) e cónego da igreja católica, afirma que “a igreja sofre de uma constante hemorragia de católicos que a abandonam em bicos de pé e nem sequer batem com a porta em sinal de protesto para que os outros saibam da deserção”.
É uma firmação extraordinária! Que mostra sem rodeios a forma como uma cada vez maior multidão de pessoas se alheia de uma instituição (com certeza) e de uma forma de estar e viver o dia-a-dia.

Ora se isso acontece é porque há algo que não seduz as pessoas ou aspetos ou pormenores que levam a que as pessoas não queiram estar onde se sentem a mais.
Rui Osório dá uma pista: “outros gostariam, que nas igrejas lhe reconhecessem o direito de falar e de ser escutado”. É uma explicação. Uma realidade que se cruza, por exemplo, com os partidos, onde se ‘entra’ com a ideia da conquista rápida do poder e, quando se fica a marcar passo, ou se sai “em bicos de pé” ou se vai para o partido ali ao lado. Ora isso é falta de verticalidade e honestidade e denota uma valente dose de oportunismo que só serve a gente serve a gente sem escrúpulos. Claro que também na igreja – e não é só na católica, não? – há quem só goste de estar no púlpito ou no grupo coral que anima as celebrações e se esqueça que em frente a si há uma imensa multidão de gente que está ali porque quer estar; por convicção e porque acredita que só assim encontra um pedaço grande de felicidade.

Mas de certeza que não está só aqui o afastamento de tantos católicos. Rui Osório adianta outro cenário: “há, também, os que se afastam porque lhes parece que os cristãos são hipócritas”. Pessoalmente, temo que esteja aqui o grosso das explicações para tão grande debandada de católicos que “nem sequer batem com a porta em sinal de protesto”.
Ora isso merece reflexão séria. Se não há protesto pode ser por falta de coragem (claro que pode!), mas pode ser também porque as pessoas percebem que ninguém as escuta e que continuarão a não se incomodar em escutar quem está em frente a si.

A reflexão que a igreja católica tem vindo a fazer não valerá de nada se quem está sistematicamente no púlpito não for capaz de descer ao meio dos fiéis para ouvir as suas palavras, acolher as suas mágoa e serenar os seus ânimos.
Se tal não acontecer, provavelmente a hemorragia não será estancada; pelo contrário, levará a um maior sangramento.

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