domingo, 12 de abril de 2020

Diálogo em tempo de cólera


Bom dia, ó rei.
Bom dia, zé povo, que mandas hoje?
Gostava de saber quantos são os novos casos de infeção com covid-19 na nossa terra. Tu sabes tudo…
Eu sei, mas não te posso dizer.
O quê, não podes dizer?!
Não. Ordens da senhora Temido, a ministra da Saúde no governo do senhor Costa.
Ui! Que se passa?
São ordens, são ordens.
Ó rei Afonso lembras-te da guerra colonial no teu reino, não lembras?
Se lembro! Aquilo era um chegar todos os dias de jovens diretamente para o cemitério. Porque perguntas isso?
Eu era puto, mas tenho ténues memórias de ir a enterros no cemitério da minha aldeia-natal e ninguém sabia quem vinha dentro de umas urnas pesadas. Diziam que eram ordens de um tal António.
O de Santa Comba?
Esse mesmo…

Sabes, ó rei, tenho pena de ti; aí especado. Tu deste tudo, até as terras, àqueles decisores da capital e eles agora ignoraram tudo o que está fora do Rossio.

Sem comentários:

Olhando a cidade V

Fizemos cidades muito hostis para as crianças. Sónia Lavadinho, consultora em mobilidade e desenvolvimento territorial, Visão , 24.11.14