A História nega coisas certas. Há períodos de ordem em
que tudo é vil e períodos de desordem em que tudo é alto. As decadências são
férteis em virilidade mental; as épocas de força em fraqueza de espírito.
Fernando
Pessoas, in Livro do Desassossego
Há uma
entrevista, de Valdemar Cruz (Expresso, 15.04.03)
a Anselmo Borges que importa reter e, porque não?, guardar junto ao missal sempre
exposto sobre certos altares da celebração. Pelos sinais de preocupação em
relação a uma igreja que “precisa de
estruturas mais democráticas e mais participadas”, mas, fundamentalmente,
pela forma direta como o professor de filosofia põe o dedo numa ferida sempre
por cicatrizar: “estamos habituados a
ler a história como a história dos vencedores. É preciso lê-la no seu reverso,
que é a história dos ofendidos, dos colonizados, das mulheres”.
E ler (ou
escutar) o padre Anselmo Borges é ter os olhos sempre abertos para as dores do
dia-a-dia; sempre direcionados para quem tem responsabilidades na sua igreja: “não
percebo como é que num tempo de crise, em que há gente a passar muito mal, em
vez de andar à procura da canonizar este e aquele, não se canoniza o padre
Américo, que é o exemplo vivo do evangelho junto dos mais pobres”.
E, diz este
professor na Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, que “quem tomou conta do mundo já não é o Deus do
amor, mas o ídolo do dinheiro”. Ninguém acredita, claro! Que o bom do padre
Américo não é santo por causa disso. Era o que faltava!
Ah! A
admiração de Anselmo Borges pelo atual líder dos católicos não deixa dúvidas: “o
papa Francisco dizia que a igreja, na sua história, está cheia de fragilidades.
Diria de crimes, inclusivamente”. É verdade, não é?
É sempre bom
sentir olhares refrescantes do lado de onde nem sempre os ventos são os
melhores para quem se sente cansado dos horrores que matam os dias.
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