segunda-feira, 13 de abril de 2015

O passado sempre foi um filão para vontades atávicas

A História nega coisas certas. Há períodos de ordem em que tudo é vil e períodos de desordem em que tudo é alto. As decadências são férteis em virilidade mental; as épocas de força em fraqueza de espírito.
Fernando Pessoas, in Livro do Desassossego
Há uma entrevista, de Valdemar Cruz (Expresso, 15.04.03) a Anselmo Borges que importa reter e, porque não?, guardar junto ao missal sempre exposto sobre certos altares da celebração. Pelos sinais de preocupação em relação a uma igreja que “precisa de estruturas mais democráticas e mais participadas”, mas, fundamentalmente, pela forma direta como o professor de filosofia põe o dedo numa ferida sempre por cicatrizar: “estamos habituados a ler a história como a história dos vencedores. É preciso lê-la no seu reverso, que é a história dos ofendidos, dos colonizados, das mulheres”.

E ler (ou escutar) o padre Anselmo Borges é ter os olhos sempre abertos para as dores do dia-a-dia; sempre direcionados para quem tem responsabilidades na sua igreja: “não percebo como é que num tempo de crise, em que há gente a passar muito mal, em vez de andar à procura da canonizar este e aquele, não se canoniza o padre Américo, que é o exemplo vivo do evangelho junto dos mais pobres”.
E, diz este professor na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, que “quem tomou conta do mundo já não é o Deus do amor, mas o ídolo do dinheiro”. Ninguém acredita, claro! Que o bom do padre Américo não é santo por causa disso. Era o que faltava!
Ah! A admiração de Anselmo Borges pelo atual líder dos católicos não deixa dúvidas: “o papa Francisco dizia que a igreja, na sua história, está cheia de fragilidades. Diria de crimes, inclusivamente”. É verdade, não é?

É sempre bom sentir olhares refrescantes do lado de onde nem sempre os ventos são os melhores para quem se sente cansado dos horrores que matam os dias.

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Fizemos cidades muito hostis para as crianças. Sónia Lavadinho, consultora em mobilidade e desenvolvimento territorial, Visão , 24.11.14