Houve um
tempo em que me irritavam aquelas coisas que hoje me fazem sorrir.
Fernando
Pessoa, in Livro do Desassossego
1. Parece
que o PS vai ser outro; um partido sem liderança bicéfala e à distância; um
partido onde o que é futuro vai estar só nas mãos de quem que ser futuro, um
partido com ideias. Parece!
Era bem
preciso! Para não se ter que ler todas as semanas coisas como estas: “Carlos
César deu o dito por não dito e mostrou como o PS não tem pejo em recorrer ao
Estado para ganhar eleições. Depois de muito criticado, lá veio corrigir-se”
(Bernardo Ferrão, Expresso, 15.03.28)
2. “O tempo,
que parecia corre a favor de Costa e do PS, parece ter-se complicado”, escreve
Henrique Monteiro na última edição do semanário Expresso. Tem toda a
razão o antigo diretor daquele semanário. O tempo sempre soube o que fazer e
como fazer. O tempo sempre separou o trigo do joio. O tempo sempre colocou
ordem no caos precipitado. Daí que o tempo – certeiro como é – jamais deixará
que se escrevam palavras como estas: “o menos que se pode dizer da operação que
levou António Costa a secretário-geral do PS e a candidato a primeiro-ministro
é que não foi elegante”, como escreve Vasco Pulido Valente no Público (15.04.03). Que acrescenta: “para nossa desgraça,
António Costa, talvez por falta de inspiração própria, não mostrou até agora
capacidade para inspirar ninguém”.
3. O tempo,
sempre certeiro, faz o seu caminho e deixa que se façam caminho – o caminho que
tem que ser feito e não se esbarra em caminhos paralelos, ultrapassagens sem
regras ou à deriva e/ou precipitações feitas passos maiores que o chinelo. Henrique
Neto – que “surpreendeu ao anunciar a sua candidatura à Presidência da
República, revelando independência apesar da ligação ao PS. E é importante que
surjam candidatos fora dos “guiões” partidários” (Pedro Lima, Expresso,
15.03.28) continua a fazer o seu.”
4. Volto a
Henrique Monteiro e à sua coluna semanal na edição do semanário Expresso (15.04.03): "[a páscoa] é também um tempo em que muito
muda na nossa política. Passos e o governo, parecem, gozar de um sopro de vida
que lhes permite sonhar com a vitória. Depois, António Costa já se compenetrou
de que não vai ter o passeio triunfal até à prometida maioria absoluta só pelo
facto de existir”.
Ai o tempo
que sempre coloca tudo na sua ordem! Depois (deste) tempo outro vem.
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