terça-feira, 24 de março de 2015

Uma sombra que afasta o fim de tarde

Os outros não são para nós mais que paisagem, e, quase sempre, paisagem invisível de rua conhecida.
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
1. Há duas discussões avançando em lume brando – quase, quase prontas a arder em altas chamas –, fundamentais para Guimarães e para o seu futuro que têm o mesmo sentido geográfico: Caldas das Taipas.
Não teriam nenhuma importância, nem sentido de meta final (isto é, objetivo fundamental) e da afirmação de Guimarães no futuro imediato (muito mais que a longo prazo) se não fossem fundamentais.
A primeira tem a ver com a poluição do rio Ave. O mesmo rio que, pelos vistos, só está poluído a montante da captação da água que serve os vimaranenses. Coisas que passam pelos olhares sempre sem explicação! É que nem todos temos sistemas-sofisticados-de-ultraqualquer-coisa para justificar o que fazemos; e com pompa e circunstância!

2. A segunda, que esteve abafada pela primeira, é a fundamental. Está em causa tudo. O futuro de uma aposta que agora já o é, quando não o deveria ter sido (como é o Avepark); o futuro de um território, que devia ter tido um nó de autoestrada e não tem (devia ter sido contemplado aquando da discussão sobre a ligação Guimarães Braga, mas caiu no esquecimento para dar lugar a uma via curta), mas que, repentinamente é o cerne da questão que baliza o crescimento de Guimarães.
Vale a pena a esse respeito recorrer à memória e a intervenções na assembleia municipal de Guimarães para se perceber melhor tudo o que agora parece ter um valor que há anos não teve.
Sim, hoje, já não é possível ir pelo Arquinho até Silvares e à autoestrada, mas que, ali em Brito, ainda é visível o local onde seria a ligação, é. Infelizmente já não vale de nada. E falar nisso agora seria levantar fantasmas que não interessam para um concelho que tem a certeza que sem crescimento nunca virá o futuro, por mais verde que seja. E isso, esteve arredado das preocupações dos decisores políticos vimaranenses durante tempo a mais. Pelo menos desde 1998.

3. Se um rio limpo e transparente é fundamental para que Guimarães alimente condignamente a enorme vontade de ser uma cidade verde (estou certo de que tal vai acontecer) urge vincar que uma ribeira sem poluição também o é. Seja pelos atalhos do desejo da ligação a um centro de excelência, seja (mesmo) pela urgência de uma cidade limpa.

4. Curiosamente, ou não, as grandes agitações vimaranenses do momento vão na mesma direção: Caldelas e, mais concretamente, a centralidade que é a vila de Caldas das Taipas. Deve ser coincidência. Ou então há coisas que passam ao lado da normal compreensão humana. Pelo menos dos vimaranenses que, vivendo na cidade, nunca percebem por que carga de água os cheiros pestilentos que a atravessam valem uma peva em comparação com a grande grandeza da outra margem do Ave.

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