Os outros
não são para nós mais que paisagem, e, quase sempre, paisagem
invisível de rua conhecida.
Fernando
Pessoa, Livro do Desassossego
1. Há duas
discussões avançando em lume brando – quase, quase prontas a arder em altas
chamas –, fundamentais para Guimarães e para o seu futuro que têm o mesmo
sentido geográfico: Caldas das Taipas.
Não teriam
nenhuma importância, nem sentido de meta final (isto é, objetivo fundamental) e
da afirmação de Guimarães no futuro imediato (muito mais que a longo prazo) se
não fossem fundamentais.
A primeira tem
a ver com a poluição do rio Ave. O mesmo rio que, pelos vistos, só está poluído
a montante da captação da água que serve os vimaranenses. Coisas que passam pelos
olhares sempre sem explicação! É que nem todos temos sistemas-sofisticados-de-ultraqualquer-coisa
para justificar o que fazemos; e com pompa e circunstância!
2. A
segunda, que esteve abafada pela primeira, é a fundamental. Está em causa tudo.
O futuro de uma aposta que agora já o é, quando não o deveria ter sido (como é
o Avepark); o futuro de um território, que devia ter tido um nó de autoestrada
e não tem (devia ter sido contemplado aquando da discussão sobre a ligação
Guimarães Braga, mas caiu no esquecimento para dar lugar a uma via curta), mas
que, repentinamente é o cerne da questão que baliza o crescimento de Guimarães.
Vale a pena
a esse respeito recorrer à memória e a intervenções na assembleia municipal de Guimarães
para se perceber melhor tudo o que agora parece ter um valor que há anos não
teve.
Sim, hoje,
já não é possível ir pelo Arquinho até Silvares e à autoestrada, mas que, ali
em Brito, ainda é visível o local onde seria a ligação, é. Infelizmente já não
vale de nada. E falar nisso agora seria levantar fantasmas que não interessam
para um concelho que tem a certeza que sem crescimento nunca virá o futuro, por
mais verde que seja. E isso, esteve arredado das preocupações dos decisores
políticos vimaranenses durante tempo a mais. Pelo menos desde 1998.
3. Se um rio
limpo e transparente é fundamental para que Guimarães alimente condignamente a
enorme vontade de ser uma cidade verde (estou certo de que tal vai acontecer)
urge vincar que uma ribeira sem poluição também o é. Seja pelos atalhos do
desejo da ligação a um centro de excelência, seja (mesmo) pela urgência de uma cidade
limpa.
4. Curiosamente,
ou não, as grandes agitações vimaranenses do momento vão na mesma direção: Caldelas
e, mais concretamente, a centralidade que é a vila de Caldas das Taipas. Deve
ser coincidência. Ou então há coisas que passam ao lado da normal compreensão
humana. Pelo menos dos vimaranenses que, vivendo na cidade, nunca percebem por
que carga de água os cheiros pestilentos que a atravessam valem uma peva em
comparação com a grande grandeza da outra margem do Ave.
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