sexta-feira, 4 de abril de 2014

Para pensar devagar

1. Numa entrevista que Laura Ferreira Alves concedeu a Igreja viva (14.03.06), suplemento do Diário do Minho, fica-se com a certeza de que há quem goste de viver com normalidade sobre as realidades a que alguns gostam de chamar de limite. Seguindo atenta e discretamente o que se diz esta defensora da morte assistida – alguém que não tem medo em afirmar que “se só houvesse certezas nesta vida, a fé não era necessária”. Ou que vinca que a sua vivência pessoal para questionar que “compaginar a existência sobreabundante do mal com a existência de um Deus bom é algo que, por vezes, me faz estremecer a fé”.

2. A entrevista de Laura Alves é uma conversa sinceramente violenta. Uma entrevista que, para quem foi educado noas valores cristãos e evoluiu para as dores dos dias é fundamental ter sempre presente. E Laura Ferreira Alves, muito mais do que uma pessoa que não mistura razão com coração (ou fé), é alguém que conhece de perto o que é perder alguém querido; assim porque sim!

3. Nesta conversa Laura Ferreira Alves é claramente clara e objetiva: “como poderia Deus não aceitar a morte deliberada de quem já se encontra no limite das suas forças?”. Daí que, sem receios – e mesmo sabendo que está a conversar com um meio de comunicação de referência na igreja católica portuguesa, seja objetivamente contundente: “nunca entendi porque é que, sendo o nosso sofrimento insuportável e a doença incurável, não havíamos de, sem falha nossa perante o Criador, poder dispor da nossa vida”.

4. Ou seja, não há razão para que a eutanásia – bem sei que é preciso cuidado com a palavra, mas estou mesmo a pensar no sofrimento limite – não possa acontecer na vida das pessoas. Como seu epílogo, obviamente. Vinco, por isso, esta afirmação: “para um cristão, o respeito pela vida é essencial. Mas, em várias situações, creio que se mostra mais respeito pela vida das pessoas possibilitando-se-lhes, se elas quiserem, e com as maiores salvaguardas (decisão refletida e sem pressão exterior), uma morte assistida”.

Nota final – Há muitos anos que tenho um respeito intelectual e de principio religioso para com Laura Alves. Tal e qual como sempre segui de muito perto, e com a maior das atenções, o seu irmão Ademar. Daí que faça questão de sublinhar que o pensamento nunca pode sobrepor-se a outras realidades.
Obrigado pela excelente entrevista a Igreja Viva, Laura Alves.

Sem comentários:

Olhando a cidade VI

  Se pusessem bancos e árvores junto a um supermercado de bairro, ele transformar-se-ia num s ítio interessante . Sónia Lavadinho, consulto...