domingo, 6 de abril de 2014

Esqueçamos a brutalidade? Com tantos olhos cegos perto de nós?

Desde que me reformei ando por aqui como um fantasma, desligo a televisão, abro o jornal, aborreço-me, poiso o jornal, deito-me para uma sesta, não durmo.
António Lobo Antunes, Visão, 14.03.20

Lendo esta afirmação de um dos escritores portugueses que mais admiro fico assutado. Quase em pânico.



Acredito que para quem está na reforma, à deriva e sem meios para continuar a viver há um fantasma em cada esquina da casa, no canto do jardim, ao longo da rua sempre acelerada e indiferente às dores.
Daí que, sem medo do exagero, quando ligo esta afirmação de António Guerreiro (Ípsilon, 15.03.21) – Todas as utopias que prometiam uma sociedade de lazer e viam no progresso tecnológico um meio que nos liberta do trabalho forma desmentidas. Pior do que isso: a evolução e a multiplicação dos utensílios, em vez de serem fatores de libertação, dilataram o tempo de trabalho e elevarem à máxima potência a lógica económica que se realiza na corrida pelo aumento da produção e do lucro – acredito, ainda mais, que os fantasmas estão cada vez mais violentos. Principalmente junto dos mais desprotegidos. Mas isso é coisa que os senhores (democratas-cristãos e social-democratas, não é?) não querem saber.

Sem comentários:

Olhando a cidade VI

  Se pusessem bancos e árvores junto a um supermercado de bairro, ele transformar-se-ia num s ítio interessante . Sónia Lavadinho, consulto...