Fado velho

Há conceitos, palavras que criam à sua volta uma problemática ou um espaço de pensamento, que de repente ganham evidência e ficam mais próximos da nossa realidade.

António Guerreiro, Ípsilon, 17.06.23

 

1. Enquanto em Guimarães ficamos sem transportes públicos no pico da pandemia e muito limitados nos meses seguintes, assistimos, em outros concelhos, precisamente o contrário, escreve Bruno Fernandes na edição do passado dia 10 de dezembro do reflexodigital.

Tal afirmação – cuja veracidade contesto – leva-me a questionar a realidade vivida, por exemplo, no vale do Ave. Seja em transportes reais; públicos, seja nos desejos de transportes que, politica e partidariamente, inventamos.

 

2. O que o dia-a-dia me vai mostrando e dizendo é que – seja na Trofa, em Vizela, Santo Tirso, Vila Nova de Famalicão ou Guimarães (não foi por acaso esta ordem) –, os transportes públicos são como sempre foram. Não o caos desenhado por Bruno Fernandes que continua a sonhar com todas as realidades económicas em mãos privadas. E estou longe de pensar em transportadoras saídas de terras intermédias entre S. Torcato e Terras de Bouro.

 

3. Mas, olhando agora e apenas para a realidade dos transportes públicos em Guimarães: não funcionaram nos dias de covid, na primavera?

Podiam ser melhor?

Sem dúvida! Desde logo, se os profissionais (estou mesmo a olhar para a forma parva e acelerada como alguns motoristas fugiam das paragens – posso documentar o que vi várias vezes no Salgueiral) fizessem somente o seu trabalho.

 

4. Mas a questão séria e nada populista que se impõe é: e o que é que funcionou por essa altura em que tudo, mas tudo mesmo, era de uma incerteza contaminante?

Já perdemos a memória de nos confiramos de cor de laranja algures pelo centro do país?

 

5. Bruno Fernandes, saberá, com certeza, de que fala. *

Deve ser uma realidade bem distante da realidade da maioria dos vimaranenses. Pelo menos daqueles que continuam a sofrer na pele as agruras troikanianas de uns tempos não muito distantes!

 

6. Não acredito que o que Bruno Fernandes fala seja retórica do tipo adjunto de presidente num lado e líder da oposição num outro sítio. Desde logo, porque já me habituei a ver que os eleitores, sabendo o que querem do futuro, não esquecem nunca quem é capaz de os ajudar a aliviar as suas dores diárias. Reais.

 

Nota de rodapé. Não duvido, nem um bocadinho de que 2021 – aí pelo mês de outubro – será um ano de Bonanças (gosto do B maiúsculo) para todos os vimaranenses. Mas isso “é vinho de uma outra pipa”.

 

* Quando Bruno Fernandes fala assim fico sempre com uma dúvida: será o responsável máximo em Guimarães do PSD ou será o porta-voz de outras agremiações políticas mais à direita e de extrema-direita que concorreram às últimas eleições autárquicas de mãos dadas com o PSD?

 

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