quinta-feira, 17 de outubro de 2013

A morte de um país


 Arrota pelintra e faz-te lorde!

ouvia há muitos anos um homem sábio que povoa, com intensa normalidade, todas as minhas memórias de criança.
Só recentemente, penso, ter percebido as palavras daquele homem que dominava a minha aldeia, onde o caciquismo do regedor ditava o futuro de (quase) todos nós. Ah! Ainda me lembro bem da matricula do carro que levou os meus pais à Casa do Povo da freguesia vizinha para votar pelo senhor general sem medo! como tantos outros também eles não voltaram às urnas até à revolução dos cravos.

O tempo passa.

(Outro tipo de pelintras toma conta do poder e do futuro. Os pobres estão muito mais pobres que no tempo em que o regedor da minha aldeia tinha sempre à porta um cacique; pronto a sair com uma tesoura e um lápis azul numa mão e um chicote na outra. Disponível para estampar a dor em qualquer rosto amargurado os desejos de emancipação e de construção de um futuro belo).

O tempo passou e o apoio do estado aos pelintras, pobres e desgraçados é uma fraude!

Tu não matas um porco (ainda que velho) para comer; as vontades de sobreviver estão esbatidas. Definitivamente. Assim é o dia-a-dia da Humanidade. Só as carnes mais rijas, porque jovens, alimentam os dias!
 
Por momentos pareceria a voz do regedor. Pior agoiro não podia acontecer! Mas o tempo passa. Infelizmente não era o regedor, mas o chefe de um estado à deriva e o seu primeiro

(cada vez mais parecido com o presidente do conselho do tempo do regedor)

a entrar pelos ouvidos adentro. Todos os ouvidos deste país sem rumo!

Que raiva ter alguns altifalantes sempre disponíveis a debitar decibéis de miséria!

Ao lado, no lar onde foi a casa do regedor, ouviu-se uma chuva de arrotos.
Os cheiros intensos cruzaram o ar. Saíram à rua. Discretos. Sabendo muito bem que por ali já não se vê o cacique pronto em entrar em cena. Mas o tempo passa e o ar é cada vez mais pesado. E os sons vestem-se de uma agressividade que já mata tantos e destruirá muitos mais.

E um país; uma nação e uma ideia de progresso e felicidade

(um povo)

morrerão.

Sem comentários:

Um mundo assaltado está aí

A s gerações que ainda estão para nascer vão habitar um mundo assaltado – espacial e temporalmente. Gonçalo M. Tavares,  Sábado , 25.04. 1...