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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Destruição de um jardim


Damos cabo das outras espécies, da energia, da água. Há um esgotamento óbvio do planeta.

Manuel Sobrinho Simões, jornal i, 19.07.13

 

1. Das minhas memórias de infância há dois ou três momentos que se cruzam com água; fugindo da escola. Um era, logo a seguir à escola primária – pelos vistos agora é a escola de Pardelhas!, na minha meninice era bem mais simples: escola nova, em contraponto com a ‘escola velha”, mais acima e só com paredes. Mas dizia que dos momentos de brincadeiras e baldas à escola, nós os putos reguilas da escola (e modéstia à parte, éramos e fomos os cincos candidatos ao prémio da Sociedade Martins Sarmento) íamos até ao regato;

hoje um fio de água subornado por donos feitos à pressa e oportunitas das  construções nas suas margens. Com a agravante de vedaram o acesso às qued de água! Basta descer a ribeira que, para que se pudesse chegar à Somelos (nessa altura tinha uma designação bem maior) era uma beleza de percurso rústico e verde.

Deve ser por coisas destas que cada vez tenho menos saudades da terra onde nasci!

 

2. Mas o que, de facto me tira o sono por estes dias, é o que vi por estes dias, na verdade!

Basta olhar para a foto que ilustra este texto.

Lá em cima, também um local de brincadeiras na água da minha infância (esta com menor intensidade de presenças; era mais distante da escola), onde, mais um pouco à frente, hoje está localizado um dos sítios mais belos que conheço (deve ser das memórias do moinho): a quinta da Carpas, começou a destruição

(O meu pai dizia que por ali se chamava de Ribeirinho, mesmo ao lado de Pedra Furada, mas tudo muda tão rapidamente!)

 

3. Tal como já acontece em pelo menos dois sítios lindos da minha memória – perdão!, na minha terra de nascimento – há trabalhos em curso que vão avisando que o “ribeirinho” vai deixar de ser público. Se calhar é só impressão minha, ou da lente do telemóvel!

 

4. Assim espero!

Se assim não for, alguém terá que responder por este atentado (a minha memória pouco importa), contra a memória dos britenses; os britenses, não os atuais moradores de Brito! Frios, distantes, insensíveis e completamente a leste das memórias lindas de Brito.

 

5. Por mim, um britense assustado com o futuro da sua terra e sem rodeios de qualquer espécie, estou totalmente disponível a lutar pelos lugares belos da minha terra de nascimento. Dos sítios da (minha) memória; sítios onde a beleza não se faz de fortalezas ou moinhos, mas da memória coletiva.

 

Nota de rodapé: se for necessário dizer à senhora presidente de junta de Brito que alguém está a destruir a beleza de Brito eu estarei lá. Tal como o farei junto do senhor presidente de câmara de Guimarães, ou dos senhores do Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional.

terça-feira, 24 de novembro de 2020

Batalha antiga

Talvez se possa dizer que a retórica é uma expressão do óbvio. E a boa escrita nunca pode ser óbvia.

Adam Zagajeaski, Expresso, 18.07.21

 

O ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes – que nunca falou numa ligação em metro entre as cidades de Guimarães e Braga porque “em linha reta, há para aí 17 quilómetros” a separá-las “e, desses nove ou dez são o Sameiro”, diz –só admite aproximar as duas principais cidades de entre o Ave e o Cávado por BRT, como escreve Delfim Machado na peça que assina na edição do passado dia 18 no Jornal de Noticias. O pior, pode ler-se também no texto do JN – Estudo vai definir como Guimarães e Braga se vão ligar, é o título da peça – é que o senhor ministro não se compromete com tal ligação (por BRT – o “chamado metrobus”, autocarro em via dedicada). 

O que Matos Fernandes assume é o “desenvolvimento de um sistema BRT apenas para cada cidade”. E isso é uma solução mais de ao pé da porta, muito longe de uma solução de futuro na mobilidade entre centros urbanos de referência.

Ou seja, não há nenhum compromisso do governo do senhor Costa numa ligação não poluente entre Guimarães e Braga. Se havia dúvidas sobre essa ligação, o melhor é não vender o automóvel; mesmo que seja movido a motor diesel. 

Para poluir já basta a conversa de promessas sem fim; nunca cumpridas.

domingo, 4 de outubro de 2020

Apelo do passado

Quando falamos de Igreja, já não falamos das comunidades de cristãos que verdadeiramente acreditam no amor e na justiça que praticam.

Anselmo Borges, E, 20.08.15

 

Há uma carta aberta de pessoas que muito estimo pela forma como olham os dias – católicos “envergonhados” como titula a peça da Natália Faria (Público, 20.09.22) – que agradeço como português; cidadão de um país livre.

E não é só por se tratar de uma “desastrada forma de intervenção cívica” a forma como Manuel Clemente – que diferente se tornou este senhor; vencedor de um prémio Camões, desde que assentou arrais em Lisboa! –, apoiou o manifesto contra a obrigatoriedade e desenvolvimento.

Na verdade, a diferença entre o fascismo omnipresente do estado novo e a forma encapotada como uma certa igreja portuguesa dos nossos dias se agita não é muito grande.

 

domingo, 13 de setembro de 2020

cevada, miséria e solidão

Foto: de homem para homem, centro cultural Vila Flor *


Sensatez é o que se pede, mas não é com tanto silêncio e passadeiras vermelhas que se é sensato.

Teresa Villaverde, Público, 20.08.18

 

olha, olha: as palavras regressam. tão bom!

hoje dormi tão mal! fotografias horrendas passaram na cabeceira da minha cama em ondulação constante.

foda-se! tantos racistas; parvos de máscaras brancas. não, não estou em frente à sede do sos racismo, estou mesmo na minha cama. só. às voltas nas imagens que me atormentam.

 

deputados ameaçados?

ui! viro-me na cama. outra vez. O corpo arrefece; totalmente. arrefeço totalmente o corpo – nem quero pensar em santa comba!

santa comba deu À luz um cadáver sedento de mulheres vestidas de negro; cadáver de jovens vestidos de camuflados que, mortos, enterravam nos cemitérios – feitos heróis –, pedras pesadas, abancado as palavras dos curas que vertiam lagrimas poluídas; quase

lágrimas de crocodilos. deputados ameaçados no meu país?

 

foda-se!

os deputados ameaçados são excelentes deputados!

quem faz questão de colar o selo do diabo? ainda há diabólicos parvos

como chefes por aí? a trazerem de volta novas ordens

de avis; resistência nacional

e saudades do lápis azul.

pai porque foste naquele mg – lembro tão bem a matrícula do carro guiado por um fascista! votar naqueles filhos da puta?

O livro de Primo Levi (se isto é um homem) é um relato de uma vivência na primeira pessoa que é um murro na nossa indiferença



 

mobilidade e o devir

  foto de arquivo Falamos de mobilidade, mas deixamos as aldeias sem transporte . Falamos de coesão, mas centralizamos a decisão . Falamos d...