domingo, 31 de maio de 2020

Recortes dos dias V


Continuamos a pensar na “natureza” como se fosse algo essencialista que nos é exterior, negando as ambiguidades das formas de vida.
Timothy Morton, filósofo do Antropoceno, Ípsilon, 20.05.15

É quarta-feira, terceiro dia de abertura; de possibilidade de alargar a circulação (um pouco) mais. E há uma grade no ribeiro; couros invadido pela estupidez humana. Estupidez disfarçada de atletas ou ciclistas que, zangados por não poderem circular, mergulharam o equipamento ali colocado nas águas limpos do rio Couros por segurança. É lixo atirado com raiva por quem se sente controlado e sem vontade de cumprir regras. Seguras e de segurança para uma sociedade que vai definhando ao sabor dos movimentos certeiro do monstro feito vírus.
Lixo e ramos que podiam estar na zona de compostagem parecem, agora, ser os polícias de quem circula contra as regras de segurança. Mas também estes restos dos cortes da última tempestade intensa deviam estar arrumados!
Tanto lixo na horta pedagógica porquê? Que pedagogia haverá por ali? Será que os utilizadores da horta não sabem que por estes tempos de monstro à solta não se recolhe o lixo na horta?
Tão agradável ouvir os ralos, não o ruído dos sinos da torre da igreja; ali ao lado.

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Recortes dos dias IV



O que está a acontecer não é metáfora. É real.

Timothy Morton, filósofo do Antropoceno, Ípsilon, 20.05.15

A curva da vida tem planaltos como os do monstro feito vírus?
Olhando para as rugas dos dias negros; dos dias que nos prendem a espaços curtos e vedados à vitalidade – confinados, não é? – ficam dúvidas intensas. Tantas dúvidas que fazem doer.
O comboio regressa todos os dias à cidade, vazio. O silêncio noturno é diferente. E nas ruas vazias não se ouve o movimento dos corpos. Olha-se para o alto.
E, olhar ao alto, em Guimarães deixa ver as paredes da Sociedade Martins Sarmento. Escuta-se o silêncio e percebe-se a intensidade da poluição na cidade.


quinta-feira, 28 de maio de 2020

Embaraços na fidúcia



Agora o Corona vai matar-nos a todos. Mas já antes a vida era uma selva com muitos venenos por onde escolher.
Afonso Reis Cabral, Público, 20.03.05 (edição dos 30 anos)

A atividade politica tem coisas estranhas que se farta!
Quando leio (Público, 20.05.22) que a câmara de Gaia alterou as regras do jogo a meio do procedimento e criou uma vaga para ex-funcionária da Cooperativa de Solidariedade Sol Maior, da qual o presidente de câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, foi cofundador, fico sem fôlego.
E ainda dizem que o vírus é destruidor!
É fundamental ler a peça com a assinatura de Margarida Gomes, para encontrar elementos para a perceção de que na atividade politica nada muda; nem mesmo em tempos pandémicos.
Infelizmente para quem vai sentindo que só os confinamentos com os que deveriam respeitar quem neles confiou parece ser a única alternativa!

quarta-feira, 27 de maio de 2020

noite de memórias


e que pensas? não penso, leio
impossível não pensar!
concentra-te na leitura e na música
não te rales comigo; olhar forte
acutilante e aberto. sempre
na direção peleja. assim farei
não deixando que o convento
ignore a subida da passarola *

* não era o memorial, mas o convento estava presente.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Amor sem melancolia

foto:visão

A máscara de que finalmente tínhamos um Governo seriamente comprometido com a ideia civilizada de que a cultura é tão estruturante e municiador como a educação caiu há alguns anos, e a culpa não é da pandemia.Inês Nadais, Ípsilon, 20.05.22

O anterior diretor do semanário Expresso, Pedro Santos Guerreiro, escreve na edição do passado dia 20 daquele semanário que Graça Fonseca entrou no Ministério mas não entrou na Cultura. Dai que para Pedro Santos Guerreiro a, ainda ministra da Cultura, foi ministra da futilidade até a pandemia bater como lava incandescente na bigorna, devastando quase tudo e quase todos.
Não me parece que valha a pena acrescentar mais nada a este ponto de vista. A sério!
A não ser olhar com toda a atenção para a rubrica Gente do mesmo semanário e na mesma edição, que faz questão de afirmar que a ministra da Cultura, Graça Fonseca, terá de ser detentora de um qualquer recorde: desde que assumiu funções, não há nada que tenha dito ou em que tenha tocado que não tenha dado asneira.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Os vírus da destruição



Nunca imaginei a pandemia a dar cabo da vida, a minha, a vossa, a do planeta.Clara Ferreira Alves, E, 20.05.09

O vírus separou os bons dos maus?
Os religiosos dos não religiosos?
Os defensores do ambiente dos destruidores de florestas e da vida sobre a terra?

Sabemos isso quando percebemos que o vírus continuará connosco para nos puxar pelas orelhas quando teimamos em fazer barulhos de motos a qualquer hora da noite. A circular a grandes velocidades

domingo, 24 de maio de 2020

feitiços da realidade



os últimos dias do devir; o silêncio que corre
dentro de ti é nosso! não estás a ouvir a loucura?
entre jardins e memórias; também
entre cheiros; os cheiros da memória e o sabor
verde do jardim. eis o enigma maior do tempo

não estás a ouvir a loucura?

continuemos dentro do mistério do tempo
e dos enigmáticos sinais
que ele teima em manter nas diferentes encenações

mobilidade e o devir

  foto de arquivo Falamos de mobilidade, mas deixamos as aldeias sem transporte . Falamos de coesão, mas centralizamos a decisão . Falamos d...