sexta-feira, 24 de abril de 2020

caminhos de liberdade



seguem-me estes caminhos! herdeiros de um punhado
de chão, na terra de nascimento; lábios quentes tecidos
na memória da respiração em liberdade. sigo
nestes caminhos persistentes na condução da liberdade

às praças citadinas; à flor da cidade
como relógio certo em horas dúbias. seguem-me
estes caminhos! onde cresce revelação, opinião
e olhares sem fronteiras. seguem-me estes caminhos
de liberdade; construtores de uma cidadania livre;

urdindo – da aldeia à cidade – um povo livre; de olhares
solenes nos dias frios; seguem-me estes caminhos!
herdeiros de um cravo vermelho na lapela das jornadas
onde a liberdade somos nós; construindo a verdade
para os caminhos que continuarão a seguir a memória
e a respiração em liberdade.







domingo, 19 de abril de 2020

Realidade com tradição


Que saudades tenho desses tempos, mas também dos eventos culturais que o Vila Flor ou a Plataforma das Artes, nos “serviam” semana a semana e que agora estão suspensos, não podendo ser entregues ao domicílio, via “Ubereats” ou outra plataforma similar.
António Rocha e Costa, Mais Guimarães, 20.04.15


Li, por entre os dias duros na mão do monstro feito vírus destruidor de corpos, pessoas, famílias, amizades empregos e futuros que “Guimarães ultrapassa a média nacional com um aumento de 62 por cento na cultura”, título da peça que o Joaquim Martins Fernandes assina na edição do dia 4 de abril do jornal bracarense Diário do Minho.

O que o jornalista escreve no diário bracarense não me surpreende rigorosamente nada. Por muitas razões e uma delas o jornalista aponta-a: “Guimarães conquistou” entre os anos de 2010 (antes da CEC 2012, vinque-se, porque há uma tendência mórbida em esquecer este dado muito, muito importante) e 2018, “uma maior independência financeira face ao poder central que se expressou numa descida de 55,3 para 45,7 % das transferências do Estado no orçamento municipal”.

Duas notas, antes de avançar: para quem tem dúvidas de que o estado central se borrifa para quem paga impostos e alimenta as vaidades centralistas, houve uma diminuição nas transferências do estado central para Guimarães; para a cultura que acontece em Guimarães. A segunda nota: Guimarães sempre soube o que as suas gentes, os cidadãos, os fazedores de realidades lindas no campo cultural – leia-se associações –, os vimaranenses, em suma, apreciam.

Se Guimarães marcou e marcará (não tenho a menor dúvida) positivamente a cultura, deve-o em grande parte às suas gentes. A começar pelos decisores públicos que acarinham sempre a criação, a criatividade, a memória futura e a fruição das coisas da Cultura. E não é de agora. Mas também o deve e muito – pela memória criativa, reivindicativa e diferenciadora – aos dirigentes e associações culturais (e recreativas) existente no seio da sociedade vimaranense.

Só uma nota final para subscrever o ponto de vista do António Rocha e Costa. Tão mais intenso, na verdade, depois de um certo desejo centralista de criar um festival (só na televisão) para certos amigos da música.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

noite pandémica



a noite está tão escura; silenciosa
a rua rejeita os corpos – fogem dela, não é?
os olhos noturnos

perderam todo o encanto.
o silêncio; continua sublime – mais intenso
mas pesaroso.

não tenho medo da noite, sabes?
desabracei-a agora mesmo; estou
tão feliz à tua espera.

domingo, 12 de abril de 2020

Diálogo em tempo de cólera


Bom dia, ó rei.
Bom dia, zé povo, que mandas hoje?
Gostava de saber quantos são os novos casos de infeção com covid-19 na nossa terra. Tu sabes tudo…
Eu sei, mas não te posso dizer.
O quê, não podes dizer?!
Não. Ordens da senhora Temido, a ministra da Saúde no governo do senhor Costa.
Ui! Que se passa?
São ordens, são ordens.
Ó rei Afonso lembras-te da guerra colonial no teu reino, não lembras?
Se lembro! Aquilo era um chegar todos os dias de jovens diretamente para o cemitério. Porque perguntas isso?
Eu era puto, mas tenho ténues memórias de ir a enterros no cemitério da minha aldeia-natal e ninguém sabia quem vinha dentro de umas urnas pesadas. Diziam que eram ordens de um tal António.
O de Santa Comba?
Esse mesmo…

Sabes, ó rei, tenho pena de ti; aí especado. Tu deste tudo, até as terras, àqueles decisores da capital e eles agora ignoraram tudo o que está fora do Rossio.

sexta-feira, 13 de março de 2020

Olhar da semana

Uma pandemia carateriza-se pela verificação de vários fatores, entre eles o fator geográfico, ou seja, quando todas as pessoas do mundo correm riscos. E, aproveitando o termo tão falado nos últimos tempos, como seria se no contágio fossemos capazes de, numa melhor gestão do bom senso, colocar o egoísmo de quarentena.
Carla Rodrigues, advogada, Igreja Viva, 20.03.12

quinta-feira, 12 de março de 2020

Virtudes menores


O trabalho que nós, os porcos, levamos a cabo é intelectual. Toda a administração desta quinta repousa sobre os nossos ombros.George Orwell, A Quinta dos Animais

O gajo serve para vos entreter; adiando o exterior? Isso é comunicação!
O gajo não presta para mais nada, a não ser, ser o vosso desejo branco de olhar o que rodeia os desejos parvos dos decisores? Ele é o máximo responsável da comunicação!
Eles são tudo! Especialistas de sistemas que engrenam as parvas tropelias dos dias; de tudo o que tape incapacidades.
Quem os dirige nos dias que correm, tem disfarces; bem camuflados: diretor-geral, secretário-geral ou outra instância geral. Eles sentados, feitos velhotes em frente ao ecrã, julgando-se dominadores do cosmos. Às vezes, só às vezes, despertam e percebem como são parvos. É nessa altura que exigem a contratação de outros parvos (mais novos, mais inteligentes e mais capazes) que exigem ser os próximos inimigos internos do império agonizante.
O tal vil metal adora!

Como gosto do fabuloso livro; pequeno é certo, mas enorme nas ideias, de George Orwell! Aconselho vivamente a todos os decisores dos dias cinzentos que por aí abundam.

quarta-feira, 11 de março de 2020

e se não fosse natal?



hoje o que vimos foi silêncio – um exército impiedoso
de distanciamento –, a verdade deslembrada dos nossos cumprimentos
parvos e inseguros de cada manhã; entrando no escrínio?
estamos mesmo na eterna ilha do tempo de solidão!
de tantas solidões.

hoje apreciei – gostamos todos, pareceu-me! – de cuidar da morte;
à volta do cantinho do nosso amigo comum: joão de seu nome
– manipulador disforme diante do real! – foi fabuloso!

e depois? silêncio; o distanciamento de sempre!

na sala – insinuando aguentar a música agressiva e violenta
na arte de perder tempo – ficamos os de sempre. hoje;
como sempre a diferença não foi o grupo foram as vaidades individualizadas.


mobilidade e o devir

  foto de arquivo Falamos de mobilidade, mas deixamos as aldeias sem transporte . Falamos de coesão, mas centralizamos a decisão . Falamos d...